Encerada com esmero, pista com molas impulsiona os dançarinos. Foto de Emílio Pedroso.
Não tem como fugir da trepidação da música, esqueça o ferrolho da infância e o apoio das paredes.
Um salão de baile especial põe os pares a dançar sem parar. O nome da cidade já é uma ordem ao movimento: Três Passos, de 24 mil habitantes, a 477 quilômetros de Porto Alegre. No interior do município, na localidade de Baixo Erval Novo, a principal atração da pequena comunidade de origem alemã é a Sociedade de Cavaleiros Cantores de Lira e Damas Sempre Alegres.
O salão de madeira, impecavelmente encerado, traz uma pista revestida de molas, que pode impulsionar os dançarinos em 15 centímetros.
– Com mais de cem pessoas juntas, a sensação é que flutuamos, andamos nas nuvens – diz Jorge Bohn, 44 anos.
Quem entra no local não desfruta de direito de escolha, é condicionado a mergulhar no balanço e aderir ao fervor das cornetas e gaitas das bandinhas. Aprende a dançar voando.
– Voar é certo, dançar não sei – diferencia Vilma Bohn.
Os bailes mensais são o passatempo das famílias de agricultores, uma folga benfazeja na dura rotina da lavoura de trigo, milho e soja.
Completando 60 anos, o salão foi criado para facilitar os travados e os tímidos. Por debaixo das tábuas, molas e pneus agem como intermitente trampolim.
– Dançar é pular numa piscina, não dá para ficar parado, tem que mexer os braços e as pernas senão morremos afogados – explica Ido Schu, 63 anos.
– Não vem a ser uma cama elástica, mas é mais do que um colchão, produzindo uma vibração infinita, um sobe e desce de enjoar marinheiro de primeira viagem – comenta o presidente do clube, Nadir Fuhr, 53 anos.
Mas a facilidade motora é apenas aparente na visão de Elaine Petersin, 47 anos, a mais conhecida pé de valsa da vizinhança:
– A pista exige alta precisão, treme muito e o novato não acerta o andamento e se arrepende de aceitar o convite.
Elaine fez questão de casar nas “tábuas cantantes” com Alcídio, 49, até encardir a cauda imaculada de noiva com números de vanerão, xote e valsa.
– Danço aqui desde criança, oferecemos show de graça – exibe-se Alcídio.
Azar dos bêbados que não suportam nem 10 minutos do sacolejo e terminam levados ao nocaute nos primeiros rounds da noite.
– O ébrio logo encontra a lona – graceja Nadir.
A solidariedade é a mais contundente consequência da pista. O espaço abole o egoísmo e isola os individualistas. Não existe como dançar somente cuidando do próprio domínio. Desde o princípio, é trabalho de equipe, coreografia coletiva. Os convidados se enlaçam em um longo e atento nado sincronizado. Se um erra, os demais sentem o tropeço.
– Uma falha qualquer gera o efeito dominó, periga o povo inteiro cair – esclarece Marli Bohn. – Nosso lema é um por todos, todos por um.
O três-passense demonstra ser um legítimo mosqueteiro do bailado.
Publicado no jornal Zero Hora
Série semanal BELEZA INTERIOR
(Em todos sábados de 2011, apresentarei meu olhar diferenciado sobre as cidades, as pessoas e os costumes do RS)
p. 32, 12/11/2011
Porto Alegre, Edição N° 16884
Conheça a sociedade de Baixo Erval Novo
Série semanal BELEZA INTERIOR
(Em todos sábados de 2011, apresentarei meu olhar diferenciado sobre as cidades, as pessoas e os costumes do RS)
p. 32, 12/11/2011
Porto Alegre, Edição N° 16884
Conheça a sociedade de Baixo Erval Novo
Um comentário:
Caro Fabro,
vou fazer um desabafo em seu espaço.
Por favor, sinceramente, me perdoe…
AOS BANDOLEIROS DA USP
by Ramiro Conceição
Talvez fosse isso, que poderia ter sido:
estudantes livres avaliando o ensino… não tido;
mas não a baderna por três maconheiros detidos
no horário de aula pago… pelo imposto do povo!
Chega dessa farra de mimados, covardes!
Chega dessa gentalha média, que dá nojo!
Que vê o público qual a merda de seu bojo.
Sem dó, sem qualquer piedade: Lei neles!
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