Arte: Eduardo Nasi
Não tenho nada contra bebês chorando, entendo as cólicas e o desconforto de começar a viver, o meu preconceito é com os adultos barulhentos, em especial com aqueles que sentam em mesas diferentes no restaurante e mantém a conversa de qualquer jeito.
Você está no meio de um tiroteio de perguntas e respostas que nada tem a ver com a própria vida.
Em vez de se aproximarem, as pessoas se mantêm longe. São janelas de cortiço berrando. São megafones de sindicatos.
É uma espécie de neofarofismo: trocaram os guarda-sóis e a galinha com farofa da praia para ocupar os estabelecimentos comerciais.
Elas não desfrutam de intimidade para ficar na mesma mesa, mas também forçam amizade com o griteiro. Cometem uma incoerência: educadas para não incomodar os conhecidos sentando junto, mas grosseiros para incomodar todos os demais ali presentes.
Demonstram uma carência política de mostrar a todo custo que são conhecidos. Realizam um Facebook coletivo, um Instagram de corpo presente, trocando postagens e áudios na hora.
O fogo cruzado de palavras mata a paciência de qualquer um.
Somos obrigados a escutar os cumprimentos e as questões existenciais dos amigos que se encontram, não sentam juntos e não param de brincar de mandar ecos na montanha.
Cria-se uma tensão entre os clientes que não desfrutam de condições de manter paz e tranquilidade para concluir as refeições.
É um couvert artístico forçado, sem a compaixão do violão.
Restaurante deveria ter igual liberdade de um cinema, para virarmos a cabeça para trás e pedirmos educadamente por silêncio.
Publicado em Vida Breve em 26/07/17
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