sexta-feira, 25 de maio de 2012

FILA DO AMOR

Arte de Edward Hopper

Quem amamos sempre deixamos para depois. Porque é da família e vai entender a urgência de nosso trabalho.

Um minutinho, meu filho./ Já te ligo, amor./ Agora estou ocupado./ É uma ligação importante.

Só que o filho cresce e para de nos procurar.
Só que o pai morre e não descobrimos o que ele queria.
Só que a esposa se cansa da solidão e pede o divórcio.

Reclamamos da fila da Previdência, da fila do SUS, da fila dos bancos. Mas os familiares vivem em fila para serem atendidos dentro de casa.

É a fila do amor que não anda. Do amor que pensa que terá tempo em seguida. O tempo adiante será o mesmo tempo de agora. A mesma falta de tempo.

Filhos pequenos são mendigos em seus quartos, esperando que você desligue o telefone, que você preste atenção.

Maltratamos quem a gente gosta com adiamentos e desculpas. A vida passa e a promessa de conversa não se realiza. E não sabemos o que o nosso menino estudou, o que a mulher criou no trabalho, o que a mãe precisava comentar sobre seu passado.

Abandonamos a família porque desejamos ter calma. Ter folga. Ter férias.

Melhor falar nervoso do que não falar. Melhor um pouquinho junto do que nada. Melhor o rascunho do que a idealização.

Interrompa suas atividades para ouvir a família. Mesmo que seja rápido. Mesmo que seja de qualquer jeito.

A conversa é do momento, a conversa é um momento.

É possível desistir de dizer. É possível perder a vontade.

Não existe como recuperar lembranças.
Cuide da família. Agora!

Ouça meu comentário de sexta (25/5) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:


14 comentários:

  1. Muito bom! Sempre leio seu blog, retwitto seus twitts. Você fala de maneira inteligente sobre assuntos que interessam a todos, já que você não fala apenas de um assunto específico. Conquista fãs com a sua maneira de pensar. Esse texto ficou legal!
    Franco de Paula.
    Twitter: @francoopg

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  2. Lá vem você com suas afirmações chocantes de tão verdadeiras!

    Gosto muito!

    Beijo
    Da ex-aluna que ainda aprende (muito) contigo.

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  3. Muito bom esse texto, como sempre.
    A família realmente quase sempre fica de lado, na fila de espera. Quem já perdeu entes queridos tem a chance de aprender e dar valor!

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  4. "Nu e cru" Vc diz o que a gente não consegue falar. O que seria de nós não fossem o poetas, escritores e músicos... - Meu filho quando começou a adolescer eu o chamava de "Metamorfose Ambulante" rsss... Nunca achei expressão mais perfeita do que essa para explicar o que eu via; dia a dia. Demais vc Fabrício! Venha nos dar o prazer da sua companhia aqui em Recife - Uma idéia: A livraria Cultura!!

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  5. Palavras que deviam ser mantras diários nas nossas vidas.
    Tão verdadeiras como a impermanência da nossa existência.
    Muito bom, obrigada!
    Laura

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  6. 5 emails sem resposta pra minha mãe na caixa de entrada. acho que vou responder agora...

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  7. Tá mas e ai, sai ou não sai a resposta para a tiração de sarro do sr Pensador em sua nova música?
    Te pergunto Carpinejar - És um homem ou um capão?

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  8. te adorooo
    http://garotadistraida.wordpress.com

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  9. Realidade triste... Gostei muito.

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  10. Bom. Postergar um carinho deveria ser crime previsto em lei.Valeu!

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  11. Carpinejar
    É urgente priorizar tempo para estar com quem amamos! Belissimo texto vou postar no meu blog com os devidos creditos viu, a mensagem contida nele é importante demais!

    Abraços
    Marilac

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  12. Quando comecei a ler o texto pensei em enviá-lo a meu marido. Mas depois me vi nele também. Irei transcrevê-lo e prender na geladeira aqui de casa. Serve para toda a família.

    Obrigada!

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