Nunca vi nenhum homem no supermercado demonstrar preocupação com o destino da caixinha de ovos nas sacolas. Nunca vi nenhum homem controlar o seu lugar no carrinho. Nunca vi nenhum homem orientando o empacotador para não colocar nada pesado em cima da caixinha de ovos. Segue junto das garrafas de litro de cerveja e não se importa, segue debaixo da melancia e não sofre com o erro. Nunca vi nenhum homem monitorando a caixinha dos ovos na hora de pôr as compras no bagageiro. Nunca vi nenhum homem levando consigo a sacola da caixinha de ovos, tal bebê de colo. O homem despreza a integridade da dúzia, é apenas mais um item da lista. Larga para a mão de Deus ou culpa simplesmente o azar.
Já a mulher tem as fôrmas de papelão como o seu primeiro e o seu último pensamento no mercado.
Dispara um alarme biológico, e não relaxa até guardar na geladeira.
Para o homem, são simplesmente ovos. Para a mulher, já são pintinhos indefesos. Agem como donas da granja, chocadeiras emprestadas.
A minha esposa não cansa de reiterar o cuidado, assim como a sua mãe, assim como a minha mãe, assim como a minha irmã, assim como a minha avó. Realizam uma hierarquia apurada do mais leve ao mais forte na distribuição dos produtos.
- Onde estão os ovos?, é a pergunta constante delas no momento do caixa.
O que denuncia a predisposição maternal feminina. A maternidade, ainda que não se revele em filhos, está no sangue. Está consolidada na visão de mundo. Está espalhada nos seus costumes. Está dentro da generosidade do seu olhar. Está no formato de cesto de seus braços.
A mulher desenvolve uma doçura inadiável diante de cenas de orfandade. Seu radar é incansável: seja com os ovos quebradiços, seja com uma criança sofrendo, seja com um cão maltratado, seja com uma injustiça a um idoso.
Jamais é indiferente ao pouco e ao fraco. Ela se fixa na fragilidade para proteger, acolhe o que é vulnerável, não abandona o que pode se quebrar, permanece atenta e firme dando colo para tudo o que carece de atenção.
A caixinha de ovos é banal para o homem - tanto faz. Para a mulher, é a prova de que não escolhe nada em vão nesta vida.
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.59
Porto Alegre (RS), 13/12/2015 Edição N°18384
Adorei adorei!
ResponderExcluirAdorei adorei!
ResponderExcluirGeneralizações...
ResponderExcluirEsta lendo no seu face "quando a alegria chora e chorei... de inveja.
ResponderExcluirQueria escrever tão bem assim.
Eu te amo Fabrício.
Papai sempre se preocupou com as duzias como mamãe e outras mulheres.
ResponderExcluirMeu marido tambem
ResponderExcluirEu marido pergunta "Mô, cadê os ovos", não sei se com a mesma preocupação que eu , mas pergunta.
ResponderExcluirQue texto delicioso!!
Acho que o instinto maternal do meu marido é maior que o meu próprio. Visto que ele jamais confia a cartela de ovos a mim. Talvez eu já tenha dado motivos para tanta falta de confiança.
ResponderExcluirEsse instituto maternal que nasce com a mulher faz dela um ser de natureza protetora. Já o homem é um ser repressivo ou seja responde de imediato a uma agressão.
ResponderExcluirmuito bom
ResponderExcluiramei
Muito bom, bem reflexivo, e faz raciocinar sobre algo que a maioria das mulheres realmente faz é me identifiquei muito com a frase:mulher desenvolve uma doçura inadiável diante de cenas de orfandade. Seu radar é incansável: seja com os ovos quebradiços, seja com uma criança sofrendo, seja com um cão maltratado, seja com uma i
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirAcredito que nem é questão da fragilidade dos ovos, mas da consciência do tudo que compramos e porque custou o trabalho para ter dinheiro e comprar. Na maneira que você descreve, a mulher é vista como acolhedora aos imagináveis pintinhos, crianças carentes ou cão abandonado. Isto é completamente sem experiência no mundo feminino. Mulher só tem a atenção que muitos homens não têm... É uma qualidade analítica e sensata. Vamos refletir que existem exceções e alguns homens são mais organizados e preocupados que muitas mulheres. Então, isto vai muito da educação e cultura exercida no aprendizado de cada um.
ResponderExcluirSensacional!É exatamente desta forma, e eu ainda não havia pensado por este lado, que simplesmente protegemos os ovos por causa do nosso instinto materno e protetor. rs
ResponderExcluirMaravilhoso, a mulher já nasce com dom de cuidar, seja do que for..
ResponderExcluirMuito bom,demonstra o quanto as mulheres são atenciosas e tomam a responsabilidade do cuidar e zelar para si, independente da situação... mas há também os homens que se enquadram nestas características e as mulheres que,..., nem tanto.
ResponderExcluirMuito bom o texto, mostra que as mulheres tem sim uma preocupação, uma atenção, um cuidado maior que muitos homens tens, pois já nascemos com o instinto materno da proteção do acolhimento, porém existem muitos homens também que não ficam para trás e que também conseguem se preocupar com as "Caixinhas de Ovos".
ResponderExcluirMuito bom, a mulher se preocupa sempre e o homem nem tanto
ResponderExcluirMuito bom ,mostra o que realmente são as mulheres super protetoras mais cuidadosas sempre se preocupando com a fragilidade do produto para que não quebre, assim também com as situações e com instinto materno sempre se preocupando como resolver sem mais problemas e protegendo para que não piore mais a situação, sempre colocando as coisas mais frágeis por cima para não q4ebrar,mas ta0bém tem homens que se preocupam com a fragilidade e preocupação de quebrar a caixa de ovos.
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