segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

OS TORMENTOS AMOROSOS DAS PESSOAS SENSÍVEIS

Conviver com pessoas sensíveis é uma proeza. Tem o lado ruim. Elas farejam uma briga na véspera do desentendimento. Pescam no ar que as coisas não estão bem. A palavra nem ficou torta e já notam a insinuação da curva na linguagem. Discutem por premonições, na ânsia de resolver crises antecipadamente. Flagram os problemas por imperceptíveis mudanças de hábitos. Não aguardam a eclosão da raiva, a pétala do ódio, colhem as folhas como se fossem flores. São antenas das ações dos mais próximos. Intuem o estranhamento e já puxam o assunto: Você não está legal, né?

O sujeito em questão ainda não tem consciência da esquisitice, sempre acaba informado por sua companhia. É algo que vai acontecer dali a dois dias, mas o sensível notou a diferença com larga antecedência.

Pela sintonia incomum com o outro, os sentimentos correm mais rápido nos olhos. Parece que o sensível está normalmente puxando briga, porque nunca descansa em observar, comparar e questionar. Jamais relaxa, jamais põe o seu instinto a dormir. Adivinha mais do acredita naquilo que escuta.

Arca com o preconceito da profecia. Pois o profeta é culpado socialmente também pelas catástrofes que anunciou. Se ele enxerga uma enchente, mesmo sendo inocente de qualquer envolvimento, torna-se responsável por não ter feito nada para conter as águas.

Na intimidade então, é muito mais grave, o adivinho não conta com a compreensão de ninguém. O sexto sentido não ajuda o relacionamento, somente atrapalha. Prevenir é incomodar e chamar as crises para perto.

O sensível passa a ser taxado de louco e paranoico, porque usa a emoção como fiadora de suas atitudes. Por exemplo, é capaz de captar o interesse de seu namorado ou namorada por alguém com uma antecedência assustadora, somente pelo jeito que menciona o nome em casa. Seu dom é confundido com a natureza de um defeito e de constante ameaça. Assim começa a ser visto apenas como ciumento. E um ciumento sem motivos.

Não há provas, não há infidelidade, não há dados concretos, existe unicamente a percepção quase sobrenatural de uma atração se desenvolvendo para justificar a desconfiança.

Não deseje estar na pele de um sensível. Ele sofre o dobro antes para não sofrer na hora.

Publicado em UOL em 24/11/2017

5 comentários:

  1. Perfeito Fabrício. Sofre antes para não sofrer na hora. Foi feito um estudo. Nele, os candidatos levavam choques sendo avisados e também sem serem avisados. Os choques avisados produziam uma variação muito menor nos batimentos cardiacos dos candidatos do que os choques de surpreza. Talvez isso realmente explique o porquê de existirem pessoas que estão sempre criando problemas aparentemente desnecessários.

    Grande beijo
    Felipe Cyntrão

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  2. "Ansiedade é quando sempre
    faltam muitos minutos
    para o que quer que seja"...como diria Mário Prata! O sensível, sofre antes, durante e no entanto! Belo texto Carpi!

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  3. CRÔNICA
    DE
    MARIO PRATA
    Saudade é quando o momento
    tenta fugir da lembrança
    para acontecer de novo
    e não consegue.
    Lembrança é quando,
    mesmo sem autorização,
    seu pensamento reapresenta
    um capítulo.
    Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego
    Preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu, sair do seu
    pensamento.
    Indecisão é quando
    você sabe muito
    bem o que quer
    mas acha que
    devia quere
    outra coisa.
    Certeza é quando a idéia cansa
    de procurar e pára.
    Intuição é quando seu
    coração dá um pulinho
    no futuro e volta rápido
    Pressentimento é quando passa
    em você o trailer de um filme
    que pode ser que nem exista.
    Vergonha é um pano preto
    que você quer pra se cobrir
    naquela hora.
    Ansiedade é quando sempre
    faltam muitos minutos
    para o que quer que seja.
    Interesse é um ponto de
    exclamação ou de interrogação
    no final do sentimento
    Sentimento é a língua que o
    coração usa quando precisa mandar algum recado.
    Raiva é quando o cachorro
    que mora em você
    mostra os dentes.
    Tristeza é uma mão gigante
    que aperta seu coração.
    Felicidade é um agora que não
    tem pressa nenhuma.
    Amizade é quando você não
    faz questão de você e se
    empresta pros outros.
    Culpa é quando você
    cisma que podia ter
    feito diferente,
    mas geralmente,
    não podia.
    Lucidez é um acesso de
    loucura ao contrário.
    Razão é quando o cuidado
    aproveita que a emoção
    está dormindo e assume
    o mandato.
    Vontade é um desejo que
    cisma que
    você é
    a casa
    dele.
    Paixão é quando apesar
    da palavra ¨perigo¨ o desejo chega e entra.
    AMOR é quando a paixão
    não tem outro compromisso
    marcado.
    Não... Amor é um exagero...
    também não. Um dilúvio, um
    mundaréu, uma insanidade,
    um destempero, um despropósito,
    um descontrole, uma necessidade,
    um desapego?
    Talvez porque não tenha sentido,
    talvez porque não tem explicação,
    esse negócio de amor, não sei explica.
    PS: desculpa, achei util!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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