sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

OVER

Arte de Childe Hassam

Um amigo me recomendou um açougue, fui conferir, sedento por novidades, ainda mais quando o negócio é churrasco.
 
Andava pela rua indicada e não achava o lugar, atravessei todo o bairro Bela Vista e não localizei o açougue.
 
Perguntava para as pessoas se conheciam um açougue perto, ninguém sabia.
 
Finalmente quando encontrei, descobri o que aconteceu: inventaram de chamar o açougue de Boutique de Carne.
 
Não dá, é muita frescura.  A afetação domina o mercado.
 
Estamos perdendo a simplicidade. Tudo mundo quer ser sofisticado e oferecer um nome mais moderno para seu comércio. Um nome pomposo. E, de preferência, em inglês, para se mostrar atenado à moda.
 
Nada mais cafona do que o exagero.
 
É um caos, uma disputa para ser a última tendência que somente confunde e atrapalha.
 
Logo mais preciso de um dicionário para andar por Porto Alegre.
 
Padaria é Boulangerie.
Estacionamento é Paradouro.
Lava-jato é higienização de carro.
Salão de Beleza é Centro de Estética.
Farmácia é Megastore.
 
Perguntei para minha namorada onde ela estava.
 
Ela respondeu:
— Designer de pernas.
— O que é isso?, retruquei.
— Depiladora, ora bolas.
 
Cadê a modéstia das nossas profissões?

Ouça meu comentário na sexta-feira (25/1) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:
 

4 comentários:

Noeli disse...

Os nomes realmente estão cada vez mais complicados. As comidas, por exemplo, não têm mais aqueles nomes como "bolo espera marido" ou "manjar dos deuses". Claro, os tempos são outros, mas mulheres não são mais donas de casa. Hoje, o chique é descrever todos os ingredientes que um prato leva. Sempre ingredientes pomposos.

Franco de Paula disse...

(Risos) Gostei!
Muito enfeite, em vez de deixar chique, deixa cafona. Até salão de cabeleireiro já virou "shopping dos fios".
Querer enfeitar demais é perder a graça.

Tina Bau Couto disse...

Apoiado!
Sou adepta, divulgadora e incentivadora da boa e velha simplicidade, do menos é mais.

Tô com o Manoel de Barros:
“O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa
Era a imagem de um vidro mole
Passou um homem e disse
Essa volta que o rio faz se chama enseada
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
Que fazia uma volta atrás da casa
Era uma enseada
Acho que o nome empobreceu a imagem”

Sugestão de leitura:
http://blogdtina.blogspot.com.br/2013/01/ter-ou-ser-eis-questao.html

Giuliana disse...

Aqui em Santa Maria (RS) tem "confeitaria do papel".