segunda-feira, 29 de junho de 2015

BANHEIRO S O S

Arte de John Noble Barlow

Quando pequeno, rico não era o que tinha piscina, terraço, chafariz no jardim.

Rico era o que tinha mais de um banheiro em casa. Se contava com três banheiros, enxergava o sujeito como milionário ganhador da loteria esportiva.

Na época, logo que conversava com alguém de posses, nem disfarçava a ansiedade e já perguntava:

- Quantos banheiros você têm em sua casa?

Porque eu vivia conformado numa residência com um único banheiro.

Nem se podia ficar muito no toalete. Logo batiam na porta.

Todo mundo sofria de pressa, urgência, desespero.

Um inferno sair para aula de manhãzinha. Como formávamos um bando de quatro filhos, inviável despertar ao mesmo tempo, precisávamos nos acordar em escalas de quinze em quinze minutos para não gerar engarrafamento.

Um único banheiro criava fila de SUS no corredor.

Sofria quando o pai decidia ler o jornal inteiro.

Ou quando a irmã usava o secador.

Ou quando a mãe se maquiava.

Se sou um camelo hoje é que fui adestrado na infância.

Ouça o comentário na manhã desta sexta-feira (22/05), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, com Antonio Carlos Macedo e Kelly Matos:

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