Arte de Eduardo Nasi
Sou teimoso.
Juliana é teimosa.
Nosso amor é uma caprichada teimosia do destino.
É inacreditável o quanto somos felizes provocando o outro.
Não testando, jamais jogando, o que consideramos diversão para insensíveis.
Provocar é chamar para perto. É desejar a proximidade.
Nosso humor é uma homenagem da intimidade.
Ela ri para mim, eu rio para ela.
Não nos avacalhamos, não nos debochamos, não nos julgamos, nada que envolva recalques.
O sarcasmo é reservado para os desafetos. A ironia fica no emprego.
Usamos a graça, a leveza do gracejo, sempre acompanhado de abraços e beijos para não gerar dúvidas.
Eu brinco e abraço, ela brinca e me abraça. O corpo afasta mal-entendidos.
Nosso riso é ingênuo. Rir é um modo de aceitar os defeitos e as manias. Um modo de acolher e de não se sentir superior ou melhor que ninguém.
Rir é dizer que eu também sou assim, da parte falível dessa luz.
Rir é autocrítica. A gargalhada é uma confissão de humildade.
Portanto, confesso que errei, mas errei rindo.
Armei de oferecer um presente de inauguração do guarda-roupa.
Olhamos um vestido em loja de São Paulo.
Ela criticou abertamente as rendas lisérgicas que faziam tributo aos Beatles. Apontou que nunca compraria.
Eu concordei na hora, fiz charme com as sobrancelhas, mas quando reencontrei o vestido em Porto Alegre, acredita que fiquei com vontade de comprar?
Levei o vestido que ela não gostou.
É o cúmulo da provocação. Nenhum homem em sã consciência deveria adotar esta atitude.
É um gesto arriscado. Um gesto impensável. Já erramos quando ela escolhe a peça, imagina quando ela rejeita?
Não entendo o que passou ou não passou pela minha cabeça. A questão é que pensei em dar uma segunda chance ao figurino.
E para mim mesmo, mesmo que representasse uma briga homérica de que “você não me escuta”, de que “você não me respeita”, de que “você não presta atenção em mim”.
Assumi os efeitos colaterais.
Ela pegou a maldita peça com generosidade e provou, rebolou, experimentou, encarou o espelho. Não faltou vontade, inclusive se maquiou para ajudar o enredo azul do vestido.
E, depois de uma longa sessão de poses, me devolveu:
— Não quero, amor. Agora tenho certeza.
Ela teve uma educação invejável. Não comprou briga, nem revendeu minha briga. Negou calmamente.
O que me faz concluir que não fui corajoso por adquirir algo que ela recusou. Ela é que foi corajosa por recusar duas vezes. Na teoria e na prática.
Êta mulher orgulhosa que é meu orgulho.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
8 comentários:
#VoltaFabricioPoeta
Sei muito bem do que você está falando. É gostoso provocar, quando sabemos que a resposta será inteligente e criativa. É uma forma de conhecer ainda mais a pessoa que amamos, facetas que ficariam desconhecidas. Meu marido e eu adoramos discutir sobre tudo, provocar a percepçāo um do outro e assim nosso relacionamento se transforma na nossa maior aventura. Como é maravilhoso este tipo de relaçāo em que um transforma o outro nele mesmo...
Carpinejar, o cara mais passional que eu ja vi!! Só que tem q existir muita paixão da outra parte para conseguir lidar com isso.
boa sorte!
A Juliana está fazendo com que explore o homem que existe em você, te satisfazendo com a feminilidade dela.
Pintar as unhas perdeu o sentido, porque o que você quer experimentar agora é a sua masculinidade de todas as formas possíveis. Nao quero dizer com isso que quem pinta as unhas seja menos viril. Apenas que
o amor nos deixa mais focados no essencial.
Que insana consciência adorável!
É.
O estilo é mesmo o Homem.
Tenho que confessar... que "invejinha boa" deste Amor-brinquedo de vocês.
DEUS TE CLONE!!!!
Carpinejar! Estou lendo teu livro (Espero Alguém), e, preciso dizer: tocada, comovida, apaixonada, são poucos adjetivos para descrever o que as tuas crônicas têm provocado em mim! Simplesmente, as tuas palavras descrevem cada sentimento que já vivi nessa minha vida! Não são palavras, são emoções em brasa, são carne aberta, dores, amores e emoções expostas à luz do dia, ardendo e latejando na gente, que lê, que sente, que AINDA é humano (a), nesse mundo tão "de ponta-cabeça" do século 21! Parabéns! Sou tua fã cativa! Mais do que sempre! Releria um milhão de vezes, e nem terminei de ler a primeira vez (mas não quero que acabe!) *.*
Aquela velha frase clichê serve pra você..."se você não existisse teriam que te inventar"!!!
Quem sabe assim, como quem não quer nada, dá uma passada no meu humilde blog: hippiedeblush.blogspot.com.br
Grande beijo!
Ola Fabrício, te assisti na Federasul, adorei, estava precisando ouvir aquelas maravilhosas palavras, nunca falo o que sinto, quero que meu marido descubra e me surpreenda, um dia aprendo a falar meus desejo e ânsias. Nasci na época do silencio, quando era jovem não tinha direito de falar era a vez dos mais velhos, quando fiquei mais velha também não podia era as vez dos jovens. Assim fico vivendo na época errada.
Meu filho adorou o livro. Parabéns pelas linda sobras, de maneira alegre e divertida tu falas grandes verdades dos relacionamentos.
Tenha uma ótima semana.
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