Quando começa o amor? Certamente quando o fascínio encontra a verdade de cada um. Aí, é pegar ou largar
Amor não é fascínio, amor é depois do fascínio, amor é compreensão.
O fascínio ainda é arrebatamento, tudo agrada, tudo é elogiado porque é inédito.
Não queremos perder nossa companhia, é só o que interessa, então não mostramos nenhuma resistência.
Não nos incomodamos. Desligamos o senso crítico.
Há também a liberdade de não ter futuro. Não nos enxergamos morando com a pessoa.
Não nos enxergamos descascando os problemas e a rotina com a pessoa. Não nos enxergamos discutindo longas madrugadas com a pessoa.
Não nos enxergamos defendendo os nossos pequenos hábitos, antes naturais e automáticos, diante do olhar espantado.
O fascínio não inclui projetos, é fruição.
O fascínio não envolve julgamento.
Fascínio é a lua de mel das virtudes.
É se deixar levar. É não pensar demais.
Fascínio é hipnose, transe, mergulho sem os pés medindo a temperatura e a fundura da água.
Todos começam fascinados e terminam decepcionados no relacionamento.
Surge a dúvida: Será que é ele? Será que é ela? A dúvida não é ruim, a dúvida é quando passamos a praticar a verdade.
O fascínio é o éden, já a sinceridade é a maçã mordida.
No fascínio, o certo e o errado não existem, apenas a vontade imperiosa de ficar junto.
É preciso cair para se vincular. É preciso questionar para confirmar.
A decepção é que desenvolve o amor.
A frustração é que amadurece o amor.
É quando percebemos que o outro não está nem na nossa cabeça, nem no nosso coração, e que temos que percorrer um longo caminho a cada manhã para conhecê-lo. Aquele que parecia tão nosso é um estranho: vem o medo, a angústia, a ansiedade que destroem a inteireza das palavras. É quando o outro mente, é quando o outro comete uma falha, é quando o outro é grosseiro, e então o fascínio desaparece, e somos reais de novo e temos que tomar uma decisão pesando pontos positivos e negativos.
E a escolha é perdoar os erros e, mais do que isso, entender os erros e considerá-los naturais. Perdoar os erros de quem nos acompanha como perdoamos os nossos próprios erros.
É concluir que ele ou ela não acerta sempre, mas acerta mais do que erra e vale a pena continuar.
Troca-se a invencibilidade pela fragilidade. Troca-se a projeção pela introspecção.
Da morte do fascínio (a inconsciência da paixão), nasce a admiração (a consciência do amor) – esta, sim, será pela vida afora.
Publicado na Revista Isto É Gente
Maio de 2014 p. 54
Ano 14 Número 708
Colunista
10 comentários:
Sempre muito bons teus artigos! Tenho fascínio e admiração pelo que tu escreves, Fabrício. Abraço! Jeanine
Fascinadmirada por tudo que vc escreve. Quero ler Carpinejar sempre, pela vida afora...
Obrigada por ter dedicado seu tempo para escrever este artigo.
Texto perfeito!!
Muito bom o seu texto, Carpinejar. Aliás, é quase impossível achar um texto que, de alguma forma, não faça sentido.
Parabéns!
Sempre arrasa. Sempre.
Lindo e como sempre genial!!!
Lindo
Sempre que me sinto perdida, procuro pelos seus textos. Você sempre coloca em palavras tudo aquilo que não consigo expressar por mim mesma.
Obrigada!
Tinha eu acabado de passar uma situação exatamente igual citada em seu texto. Então um dia, lendo revista no consultorio do medico li seu artigo e me apaixonei por ele, pesquisei e achei seu blog. Adorei seu trabalho! Parabéns!
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