Arte de John Melville
A mulher tem implicância com o homem engraçado, diz gostar mas não aguenta. Tem repulsa do piadista, aquele que desfia seu repertório de piadas depois de um almoço ou janta, transforma seus dentes num palco iluminado e mergulha num stand up de duas horas.
Mulher prefere quem entende o momento de rir e de ser sério e não demora demais nem num espírito, nem no outro. Espera versatilidade e pontualidade, que veja a hora de ser leve ou solidário, de modo nenhum alguém que invente comédia e force bom humor quando ela está sofrendo.
Deseja mesmo o gracejo, não o sorriso escancarado de chorar. A mulher reserva a gargalhada para seus amigos, já para seu namorado anseia rir com o rosto, rir bonito, não rir de qualquer jeito.
Complicado corresponder às expectativas femininas. É preciso definir um ponto de equilíbrio. Não encarnar um extremo, mas compor sutilezas dentro do comportamento.
Homem tem que ter firmeza, não força. Demonstrar segurança em suas ideias e atitudes, não necessariamente ostentar músculos e barriga tanquinho. Virilidade vem da determinação, surge do caráter. Carregar a alma de uma mulher é mais difícil do que levá-la nos braços pela casa.
Homem tem que ser corajoso, não confundir com precipitação. Coragem é sequência, manter a vontade imperiosa de amar, apesar das dificuldades e senões. Jamais desistir no primeiro obstáculo.
Homem tem que ser romântico, não desesperado. Surpreender e se declarar como se fosse simples e natural, evitando a soberba da emoção e o autoelogio.
Homem tem que ser sincero, não grosseiro. Pontuar a verdade olhando nos olhos e sempre perguntando como sua companhia vê a situação. Decidir junto enquanto é dúvida, não relatar o que já foi feito.
Homem tem que ser sensível, mas não chorão. É se emocionar sem ocupar o papel central, flertar a tristeza com muita alegria, como faz o samba, e não exagerar na tinta de suas lágrimas.
Homem tem que ser compreensivo, mas não submisso. Ouvir, entender e se posicionar, ainda que provoque discordância.
Homem tem que ser sexy, mas não performático. Não invente de fazer um strip-tease e pole dance. Estragará toda a reputação construída ao longo deste texto.
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.44
Porto Alegre (RS), 19/04 /2015 Edição N°18137
10 comentários:
Excelente texto...é um prazer ler vc! abraço, ania..
Apaixonada por você em palavras. Acho o máximo você ter esse espaço de contato direto com o leitor, mas ao mesmo tempo não acho, porque se tiver contato contigo posso ter um piripaque e não voltar mais pro lugar hahaha
Seria muito pedir pra você dar uma lida rapidinho, mas bem rapidinho mesmo, num texto curto? http://www.overboliberto.blogspot.com
Um grande beijo!
Ótimo texto, parabéns pelo trabalho!
Gostei mesmo. Sensível e direto.
Engraçado que seu nome apareceu duas vezes no meu dia, uma hora lendo uma crônica de Martha Medeiros no livro Ser feliz por nada e o outro momento foi lendo uma crônica no site Casal sem Vergonha. Passei a tarde em júbilo por encontrar esse espaço com misturas de palavras lindas. Parabéns pela suas escritas! Sou a sua mais nova fã.
Como cronista você é um excelente poeta. Essa mania de definição, esse "receituariozinho" limitado e limitador da alma humana, dos gostos, do que querem e o que pensam as mulheres, sinceramente está muito chato. Volta a escrever poemas, sai dessa mediocrização de escrever para agradar aos outros.
homem não tem que ser nada além do que ele quiser ser.
Sou nova nessa história de blog, por isso estou a espera de criticas ou elogios. Sua opinião é muito importante. Obrigada!
deposito-de-noticias.blogspot.com
Belo texto, Carpinejar!
Apesar deu ser teu admirador há um certo tempo - entrevistas na TV e programas de rádio -, confesso que só agora, e isso porque também fiz um BLOG, vim conhecer este teu espaço de divulgação de Crônicas.
Nesse texto gostei muito disso em especial:
"Carregar a alma de uma mulher é mais difícil do que levá-la nos braços pela casa"
Poético, profundo e verdadeiro. Parabéns por essa sensibilidade ao extremo.
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