segunda-feira, 13 de abril de 2015

PELA PONTA DOS DEDOS

Arte de Tomie Ohtake

Quando ando de mãos dadas com minha mulher, pode sair de perto, que não vou me separar. Até chegar ao destino. Nem tente nos furar, nos atravessar, pedir passagem na contramão.

Dá azar desfazer o enlace e deixar um outro caminhante ganhar a preferência.

É como piloto de Fórmula 1 numa curva, sem chance de ultrapassagem.

Terá a obrigação de contornar o casal, de se encolher no canto, de se esquivar.

Coçamos o rosto de mãos dadas. Apontamos o caminho de mãos dadas. Não soltamos as mãos.

Somos algemados pela aliança.

Não procure um espaço no meio da gente. Não ouse nos apartar nem por alguns instantes.

Não há brecha. Somos inteiros, indivisíveis.

Quando andamos de mãos dadas, não somos dois, somos um só. Um só segurando a nossa vida pelas pontas dos dedos.

Ouça o comentário na manhã de terça-feira (24/3), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:

Nenhum comentário: