quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

HOMÃO DA PORRA

O homem sempre recebeu adjetivos genéricos, sei lá se as mulheres achavam que ele não merecia. Talvez tivessem razão.

Para os que apresentavam aparência atraente, empregavam lindo, gostoso, tesudo. Para os que não inspiravam deleite estético, o público feminino usava frases e um pouco mais de caracteres: você é tão engraçado, você é tão carinhoso, você é tão seguro.

Finalmente apareceu uma homenagem que cabe para bonitos e feios, heterossexuais e gays, altos e baixos, gordos e magros, que ultrapassa o patamar da superficialidade: homão da porra.

Como a palavra saudade, não terá tradução pertinente em outro idioma.

É uma expressão brasileira, selvagem, que traz o mais puro reconhecimento. Tem um quê de malandragem e a reverência do aumentativo. Chega aos ouvidos como um desaforo delicioso.

Homão da porra envolve atitude, refere-se a conduta, é um sinônimo que pode ser usado tanto como admiração física quanto intelectual. Indica firmeza de princípios, coragem de ser. Vai além dos atributos do corpo.

Homão da porra não se restringe à cantada, é uma confissão de apreço. Serve ao amante, mas também ao amigo e ainda para o ídolo.

Tem virtudes de um pacote completo de televisão a cabo. Atende aos caprichos de séries, filmes e pornôs, ou a dramas, comédias e romances, atinge a todos os temperamentos e gêneros.

Homão da porra é uma nova versão do irresistível canalha, com a diferença de que o sujeito não precisa ser imprestável. Ele pode ser comportado, educado, fiel e leal e continuar sendo um homão da porra. Não é uma denominação machista, rompe com o histórico estranhamente positivo do mulherengo e do galinha. Pois o macho promíscuo era sempre endeusado como alguém indomável.

Homão da porra quebra com a fama antiga de que homem bom devia ser colecionador de mulheres, propagada por personagens como Casanova e Don Juan. Homem bom é homem bom, ponto final, sem atenuantes.

Homão da porra nos liberta dos preconceitos, atende à pluralidade do desejo, à diversidade do comportamento.

É mais uma prova darwiniana de que Adão nasceu da costela de Eva, e não o contrário.

Publicado em UOL em 29/9/2017

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