segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O PASSADO GUARDADO DENTRO DO FUTURO

Arte de Hannah Höch

Você deve ter algum objeto do ex em casa.

Uma caneca, uma roupa, um livro com dedicatória, um cd, qualquer coisa que não jogou fora.

Qualquer coisa que você pensou que era mais seu do que do ex.

Qualquer coisa que escapou da fogueira, da Inquisição, do ódio.

Qualquer coisa que resta no purgatório sentimental.

Qualquer coisa que esqueceu ou não sentiu necessidade de jogar fora.

Você apagou as fotos no Facebook, quebrou os porta-retratos, limpou o guarda-roupa, abandonou grande parte dos presentes, você deixou que ele levasse embora tudo o que  lembrava.

Mas algo ficou, sempre fica, por mais atento que seja.

A verdade é que, consciente ou inconscientemente, não conseguimos descartar uma existência por completo.

Porque somos sensíveis, porque somos bobos, porque somos humanos, apesar do sofrimento e da cicatriz.

Fracassamos, temos compaixão, preservamos uma relíquia para dizer que o relacionamento não foi em vão.

Escolhemos sem querer uma prova de que não foi loucura de nossa parte, de que não foi alucinação, de que o amor tem provas materiais e realmente existiu.

Ouça meu comentário na Rádio Itapema na tarde dessa segunda (05/10), às 13h, apresentação de Denise Cruz:

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