Arte de Leslie Hurry
Minha amiga Diana Corso acabou de lançar seu primeiro livro de crônicas: Toma conta do mundo (Arquipélago).
Ela mostra nossa dificuldade de se despedir dos convidados em uma festa.
Nossa incompetência em dar tchau quando recebemos um grupo em casa e avançou a madrugada e estamos com sono.
A noite foi maravilhosa, os doces e o café foram servidos, nossa vontade é deitar na cama que está a poucos metros da sala de estar.
Mas temos que esperar que os nossos convidados decidam partir.
Sofremos com uma falsa educação de que eles devem resolver o fim do jantar, não nós, que organizamos tudo e bancamos o encontro. Que é chato despachar os amigos. Que é indelicado avisar aos amigos da obrigação de acordar cedo para o trabalho.
A gente absolutamente esquece que eles são os nossos amigos e que poderíamos falar qualquer coisa. Queremos agradar sem nenhuma necessidade.
O que acontece?
Reina aquele silêncio constrangedor, aqueles bocejos intermináveis, até que um dos convidados percebe o desconforto e comenta:
- É o momento de ir embora, já é tarde!
Em vez de responder "sim, ótimo", em vez de comemorar o alívio, em vez de expor nossa vontade, vem o medo de que descubram nossos pensamentos e falamos o contrário: "Não, ainda é cedo, fiquem mais um pouco".
E para piorar começamos um debate sem fim sobre um tema sem fim, lançando uma pergunta para queimar mais uma hora de conversa:
- O que vocês acham do aborto? O que vocês acham da pena de morte? O que vocês acham da redução penal?
A culpa é uma péssima anfitriã.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (23/9) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:
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