Arte de Gustave Dore
Príncipe conversa com seu confidente. Acabou de se separar da Cinderela. Abrem-se as cortinas.
– Por que vocês se separaram?
– Ela explicou que eu amava demais.
– Amor demais? Tá de sacanagem? Aprontou alguma?
– Não, amei demais.
– Ninguém se separa por amor demais.
– Sim, ela se separou de mim por este motivo.
– Traição, ciúme, ressentimento são as causas mais comuns.
– Não, havia química poderosa. A gente ria muito. Os amigos enxergavam nosso contentamento. Admiravam nossa felicidade.
– Ria?
– Sim, de gargalhar, de doer de gargalhar. Bebíamos de noite conversando bobagem.
– Não faz sentido. Explica?
– Era muita surpresa para uma rotina. Casal perfeito, sabe?
– Sem filosofia, ela alegou o quê?
– Que era muito amor para uma mulher só, que ela não era o que eu idealizava.
– Você falou isso?
– Não, pelo contrário, eu falei que ela era muito melhor do que eu idealizava.
– Toda mulher deseja alguém por perto, romântico, com olhos somente para ela, não?
– Ela não gostava. Chamava de carência. Insistia para me controlar, amarrar as mãos, amordaçar a boca, não ficar em cima, dar espaço.
– Não tem cabimento... Tá brincando?
– Tem, sim. Amor demais. Eu lavava a louça antes dela acordar, eu a levava para o trabalho, eu estava à disposição de seus chamados.
– Ela ainda reclamava?
– Sim. Amor demais. Reclamava que não aguentava tanta pressão, que não conseguia respirar.
– Pressão de quê?
– Do meu amor demais.
– O que você pensava da situação?
– Nada. Estava feliz amando demais. Escrevia cartas e bilhetes, fazia declarações públicas, mandava flores, banquei serenata na janela, coloquei outdoor.
– Nossa, que estranho!
– Não é estranho, ela reclamava do amor demais. Ela se separou pelo amor demais. É muita expectativa.
– Era um conto de fadas, deveria ser bom.
– Mas faltava a bruxa, a maçã envenenada, o lobo.
– Por que você amou demais?
– Eu descobri o infinito no primeiro dia, eu a pedi em namoro no segundo dia, eu ofereci casamento na primeira semana, abri a casa no primeiro mês. Enlouqueci partilhando minhas razões de viver.
– Tudo foi rápido?
– Amor demais. Eu dei um solitário e pretendia casar na igreja. Eu queria ter um filho, já tinha até escolhido o nome. Eu dava presentes fora de hora, levava para jantar, não deixava qualquer pedido em casa. Ela parecia contente até que um dia...
– Um dia?
– Disse para mim: chega de amor!
Publicado no jornal Zero Hora
Porto Alegre (RS), Edição N° 17521
28 comentários:
Pode não parecer,
mas o amor em excesso
pode ser prejudicial à saúde.
VC AMAVA DEMAIS.
ELA AMAVA DE MENOS.
BEM MENOS.
SIMPLES ASSIM.
Provavelmente ela amava o teu amor por ela, já que era tão fã do escritor... ela amava ser a musa do poeta..
Tu não estás errado. Amor nunca é demais, não muda. Taaantas mulheres querendo um Homem como tu e ela, que teve, não valorizou. Te peço, não muda.
A gente nunca está satisfeito mesmo. Porém, já diz minha mãe, tudo que é em excesso não presta.
O amor é sutil, convidativo. O teu amar demais é um excesso desnecessário. Como tu mesmo disseste, não precisamos dizer que somos transparentes. O mesmo para serve para amar.
Dá próxima vez, deixe espaço para o amor naturalmente. Sufoca mesmo, acredite.
Torço por ti.
bj
Sensacional, já vivi algo semelhante, incrível como pôde ser exato.
Achava que não era possível amar demais: vc me convenceu que é!
Entāo foi isso que aconteceu?
Às vezes dá para entender porquê os poetas têm várias mulheres ao mesmo tempo, assim eles podem dividir toda a intensidade de seu amor e ainda sobra um pouco para eles.
Esses normopatas incapazes de satisfazer os poetas com a mesma paixāo merecem um belo par de cornos.
Agora a única maneira de sair dessa é investir toda essa libido acumulada em você mesmo. A paixāo é uma doenca quando nao é correspondida, porque faz reviver as mais primitivas sensacoes de abandono e de desimportância, sensacoes que toda crianca sente em relacao aos pais, quando está elaborando o complexo de édipo. O que acontece quando é correspondida é que existe uma reelaboracao mútua desta perda e ninguém sofre. O objeto desta paixao nao é ela, mas as lembrancas reprimidas de sua infância .
Ponha o raciocínio para funcionar e veja o quanto você está idealizando alguém que para outro nâo significaria nada além de uma pessoa qualquer.
Como pode tanto amor causar tanta melancolia? Foi isso que senti lendo seu texto... :'( Torço que toda essa melancolia amorosa se converta em felicidade, e que tudo se equilibre em seus relacionamentos, em sua alma, em seu coração. Abraços!
Olha, Fabrício, qdo algo é demais, cansa mesmo. E qdo algo é só de uma das partes, acaba!
Vai passar, com calma, tudo volta aos eixos.
Tem gente que não merece o nosso amor. Então, fazer o quê?
Beijos
sabe a graça de amar demais? É sempre encontrar alguém que ame demais também. Agora pode parecer que não, e tem que parecer que não, senão, você não seria poeta. Mas vai ver só, ainda vai encontrar alguém assim, que ame tanto que parece amar por dois, igual a você (:
boa sorte com isso
beijos rimados pra você Carpi, sou sua fã
A relação tem que ter o mesmo peso pra quem está nela. De nada adianta um fazer mto e o outro menos. Uma hora isso é cobrado. Ela achou q era mto, se assustou, se sentiu sufocada... Precisava talvez achar q de fato merecia todo esse amor, precisava de tempo pra ver q estava o recebendo por ter o conquistado. O q vem fácil, assusta. Normal tb o medo de não corresponder as expectativas, de ficar insegura e achar q não estava a altura. Agora ao apaixonado e crente do amor, essa seria a hora do esforço pra fazer valer, né?
Acredite, se não fosse assim, futuramente vc acharia q por parte dela era menos. Relacionamento tem sim q estar na balança e equilibrado, sem tender peso maior pra nenhum dos lados.
Todo esse amor dedicado, reverta a vc mesmo, se cuide e tudo ficará bem.
Meu amigo, me desculpe a franqueza, mas tudo o que é demais enjoa. Tudo o que está muito disponível, muito fácil, perde o valor.
Por essas e outras que existe aquele clichê que diz que "mulher gosta é de cafajeste, não valoriza os homens bons".
Na verdade a mulher (assim como o homem também) gosta é de desafios. Se o cara fica sempre a serviço da mulher, ela perde o interesse. Não sobra um espaço pra sentir falta, pra sentir um pouquinho que seja de insegurança. A questão não é amor demais, é sufoco demais. No começo pode parecer bom, mas ninguém aguenta muito tempo.
Saudações!
A minha intensidade sempre assustou meus namorados, que se constrangiam com as declarações inflamadas, bilhetes embaixo dos travesseiros, e visitas fora de hora. Mas sou eu que sempre termino, por não encontrar quem se permita ser amado. Eu sempre amei assim, de forma assumida e desmedida, e ninguém está pronto pra ser amado dessa maneira. Depois de um tempo do término, todos me procuraram novamente,dizendo que sentiam falta disso em suas novas namoradas, e guardam as cartas e presentes depois de anos.No fundo, somos auto-sabotadores, achamos que não merecemos e preferimos nos render a nossa própria pequenez a nos tornarmos grandes aos olhos de alguém.
Acho que o excesso pode fazer mal sim, mas não o excesso de amor. Amor nunca é demais.Amor é o que todo mundo espera receber nessa vida. Amor , muito amor,em excesso mesmo...nada de doses homeopáticas. Amor não tem "dosagem" não....Você amou maravilhosamente, ela que não te amava nada(me desculpe)...como se diz : A medida do amor é amar sem medida.Quem dera 10% das pessoas tivessem esse tanto de amor para dar....bjsssssss
Eu te Admiro muito como escritor e como homem. Parabéns pelo teu trabalho
quem nunca viveu um amor assim.. as vezes a gente se afoga no tanto de amor que temos, que queremos demonstrar, doar... que não prestamos atenção no quanto aquela pessoa nos ama (se é que ama mesmo..)
na proxima vc estará mais atento, e um pouco partido tbm.. mas acontece com todos.
Amor demais realmente cansa, sufoca. É preciso haver espaço para a saudade, para a falta.
Beijos, torço por vc!
É isso aí, ninguém se espanta com quem ama de menos, com quem não ama, isso é o normal, é costume, é a regra. Mas quem ama demais precisa de tratamento seríssimo, é isso mesmo, almejam o amor, esperam o amor, mas se espantam e correm dele. Sei lá acho que só é doença se tem ameaça de morte, se tem violência, algo do tipo, afinal são esses os casos elencados no código penal como crimes. Mas o que descreveu não é amor demais, é o amor que os corajosos e seguros de si procuram, esperam, aceitam. Mais sorte da próxima vez, pra você, pra ela, e pra e pra todos, né?! Sei que deveria comentar que o texto está perfeito e falar de escolas, tipos, palavras, frases, mas é impossível não entrar apenas como terceiro no diálogo. Beijos
Pois é, as pessoas não amam mais, se esquecem de gostar, usam umas as outras pra conseguir o que querem e depois nos descartam como objetos. Esse , pra mim,é o mal do século. Eu sempre amei demais, nunca tive medo de demonstrar meu amor, não acho que alguém deva ter vergonha de se expressar. Mas, no mundo de hoje, como a maioria ama as coisas e usa as pessoas, nós, os românticos, estamos cada vez mais receosos...de nos machucar mais e mais.
Deve ser agoniante acordar e dormir com um personagem. Sei que você não tem culpa. Mas você tem que buscar uma forma mais trivial de ser, sem tanta literatura. Você interpreta a sua literatura o tempo inteiro; até a aliança tinha uma frase sua. Ela não era mais a Juliana Duarte: tornou-se a Juliana de seus textos (e não soube reconhecer-se mais). Ela pode ter se apaixonado pelo Fabrício dos livros: mas passou a querer um Fabrício mais genuíno (e você não soube resgatá-lo). Para a próxima, vista o combo calça jeans e camisa hering para amar. beijos
Uma vez, num auditório, vi você dizer para um cara que reclamava que escrevia livros e não conseguia ser publicado (ou lido): "escreva para si mesmo, é isso o que importa". Porque você não AMA para si mesmo e para a mulher que está com você e pára de encher a paciência dos demais com as suas lamúrias melequentas?
Lindo e triste como um fogo de artifício. Só me vêem frases feitas - "O Segredo protege a si próprio."
Porquê não protegeram o bastante o Amor de vocês?
Pois é...de novo: "cuide bem do seu Amor, seja quem for"
Se possível, leia o post abaixo, lembrei-me de você:
http://www.debatesculturais.com.br/deixando-ir/
É assim que nascem os cafajestes, os desapegados, depois de terem seu amor humilhado e desvalorizado. Mulheres assim criam monstros que se desencantam....
Sou amada exatamente assim há quinze anos e feliz, muito feliz. Não consigo imaginar outra forma de amor. Num mundo onde as pessoas têm cada vez menos tempo, vivem estressadas e cansadas um amor como esse é raro...e maravilhoso. Uma pena ela não estar preparada.
Para mim não é amor demais, é presença demais. O que faz este homem nos tempos entre o amor demais e o amor demais?
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