Arte de Fritz Bleyl
O verão é perturbador.
A nudez da mulher muda com a praia e a piscina.
Ela passa a ter uma calcinha na pele. Quando transar, terei duas calcinhas para tirar.
Se uma já era boa, duas são insuportavelmente excitantes. É a tara masculina saciada em dobro.
Você vai baixar a primeira de renda com as mãos e outra com os olhos.
Preste atenção, aproveite a temporada. Só nos meses quentes para contar com strip-tease duplo de sua esposa.
Irresistível a marca de biquíni que ela deixa para mim. Sua pele branca somente reservada para minha adoração.
É o mapa do pecado, é a geografia do desejo, é o país da lascívia.
Fortalecendo a morenidade de minha mulher, o sol me ajuda, é meu cúmplice de alcova. O sal e o mar colaboram colorindo o corpo e me separando a tez imaculada.
Abençoo o contraste. A parte branca do biquíni significa um presente marítimo, uma concha inteiriça e de som infinito que erguemos do rebuliço das águas.
Eu entendo e respeito quando ela fica horas torrando na cadeira. De bruços, de frente, de lado, seguindo os raios com a lealdade dos reflexos dos óculos escuros. Não reclamo do seu isolamento, não digo que é perda de tempo, não vejo como imolação, não recrimino com piadas sexistas, não zombo da dedicação.
Pelo contrário, agradeço sua generosidade comigo. Levo cerveja gelada, caipirinha e protetor reserva para prolongar seu tempo de exposição. Busco toda coisa que deseje. Ela tem direito a sonhos de grávida, a excentricidades de grávida. Não considero nenhuma regalia absurda perante o prazer que encontrarei de noite.
Eu me torno seu cooler, seu isopor, seu guia do deserto, seu pajem. Altero a direção dos ventos, sopro tempestades para longe, abro frestas nas nuvens com o poder do pensamento. Combato o que pode atrapalhar seu dia iluminado e claro.
Conheço o valor de minha recompensa, prevejo a extensão da dádiva.
Não é o bronzeado que me alucina, é onde ela não se bronzeou. É onde ela se guardou para mim.
A parte branca do biquíni vale qualquer esforço, qualquer sacrifício.
A parte branca do biquíni é uma cobiçada ilha após a natação dos braços.
Sem querer esnobar, eu entro onde nem a luz tem permissão.
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 15/12/2013 Edição N° 17645
Porto Alegre (RS), 15/12/2013 Edição N° 17645
4 comentários:
Fabricio, te mando um abraço com boas energias em recompensa por todas as boas energias que já recebi dos seus textos.
Estou no verão argentino há anos, morro de saudade do Brasil, do clima, e principalmente dos brasileiros.
Suas palavras me fazem voltar a conectar com o amor, mesmo com tanto desamor.
OBRIGADA.
Uau " eu entro onde nem a luz tem permissão". Beijo.
ARRASOUUUUUUUUUUUUUU...DESVENDOU O MISTÉRIO DO SUCESSO DAS MARQUINHAS..RSSSS
Cabra bom!
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