Arte de Georges Braque
Quando alguém está triste, temos a mania de reverter o quadro com palhaçada.
Criamos um circo instantâneo. Montamos a lona das bobagens. Falamos sem parar para buscar distrair a tristeza.
A pessoa está quase chorando e entramos na espiral de piadas, de caretas, de brincadeiras, de cantorias. Como se ela estivesse a fim de um espetáculo naquela hora.
Não está. É tudo o que não deseja.
Quem está magoado pretende garantir seu espaço, sua intimidade, sua reserva, sem espectadores, sem palco, sem a necessidade automática de recuperar a alegria.
Quem está magoado não pretende se sentir culpado, nem pressionado a mudar de estado de espírito.
Quem está magoado não quer jogar Imagem-ação, com mímicas e adivinhações.
Esta pedagogia do riso já não repercutia bem com crianças (inventar cócegas não salvava nenhum aborrecimento. Pelo contrário, aumentava a irritação).
Preservamos a ideia de que a tristeza incomoda a família, os amigos, os amores. Estraga o final de semana. Atrapalha a convivência.
A tristeza nunca é bem-vinda, maldita como uma gripe.
A tristeza nunca é compreendida, respeitada, deve ir embora imediatamente.
O que é errado. Nada mais essencial para a saúde emocional do que a tristeza. É o momento que organizamos os pensamentos e recuperamos nossa solidão.
No fim da história, desencadear palhaçada fará com quem está triste só fique também constrangido.
Ouça meu comentário na manhã de sexta-feira (19/9) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:
Um comentário:
Um dos seus melhores textos! Me senti oresa as suas palavras enquanto comecei a ler seus textos na revista crescer, depois disso nao parei mais! Ja sao uns 5 anos de admiraçao e paixao oela sua escrita! Meu escritor favorito. Sem duvidas. Sarah Cunha.
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