quinta-feira, 13 de outubro de 2016

PRESENTE ÚTIL



Texto Fabrício Carpinejar
Foto Gilberto Perim

Farei 44 anos no domingo dia 23. Já estou maduro, entrei na fase do presente útil. Findou a infância da comemoração, a exigência por festas e os laços dos pacotes.

Promovo campanha para que os amigos e familiares não desperdicem os seus recursos e me dêem algo que eu realmente precise. Nem precisa embrulhar.

Escrevo uma lista objetiva do que me falta. Sopro as respostas. Não nego as intenções.

Não ambiciono o lucro imaginário - pois quem não pede coisa alguma deseja tudo. Não professo falsa humildade - pelo menos, a minha arrogância é verdadeira.

Sou capaz de encomendar um sapato e indicar o site de menor preço, coisa impensável nos aniversários anteriores, onde eu queria ser surpreendido e não me inferiorizava a oferecer dicas e sugestões.

Eu me alegro ao preencher as minhas urgências. Antes exultava com as extravagâncias.

Abandonei a vitrine pelo fundo da loja. Os sonhos de consumo foram substituídos pela partilha miúda do cotidiano. Viabilizar o final do mês sem gastos extras soa melhor em minha vida do que acumular fantasias.

É bem mentalidade de velho, logo admitirei a impessoalidade de depósitos bancários.

Sou ecumênico nas necessidades. Tampouco desdenho eletrodomésticos e panelas que fariam qualquer mulher a entrar com a Maria da Penha. Virei realista. Está mesmo na hora de trocar o liquidificador.

Quando criança, o tormento era receber roupas, o anticlímax da festa. Roupa não poderia ser considerada presente até os 11 anos. Presente se resumia a brinquedo, e nada mais.

Roupa não mais me inspira ingratidão. Atualmente sou favorável a renovar as gavetas e cabides.

Só não me compre pijama,  amadureci mas não estou morto.

Publicado no Jornal O Globo - Blog

Coluna Semanal

13.10.2016

2 comentários:

Varlice disse...

Parabéns, Fabrício!
O meu é dois dias depois.

Maria Teresa Valente disse...

Parabéns, Fabrício, adiantado, por não saber se terei internet no dia 23!
Essa tua facilidade com as palavras só podia ser de escorpião, intenso em tudo!
Felizes dias, abraços carinhosos
Maria Teresa