Arte de Leonardo da Vinci
Os doentes terminais ficam com o punho fechado, preocupados com a próxima pontada, controlando o retorno do soluço, antecipando o lugar dos tremores.
Não abrem a mão, fincam as unhas na palma, podem se machucar e rasurar as linhas do destino.
Estão concentrados em seu próprio sofrimento, atentos ao som como uma noite sem estrelas.
As enfermeiras criaram um truque para aliviar a dor: colocam entre os dedos dos pacientes uma luva com água morna dentro.
É um faz-de-conta. É como se um familiar segurasse a mão deles naquele momento de angústia.
Os doentes se tranquilizam, se acalmam, e o braço se solta para a janela.
Na despedida, dependemos somente de uma mão segurando a nossa. Tolos ou gênios. Toscos ou eruditos. Todos somente procuram o corrimão de uma amizade. O corrimão de um parente para descer os degraus da morte, suportar a penumbra e não cair desmemoriado nas lembranças.
O último suspiro é o da mão, não da boca. O poeta Goethe não disse 'Licht! Licht! (Luz! Mais Luz!) em sua derradeira exclamação. Foi um lamento prosaico, comum, destinado a sua neta Ottilie: "Me dá sua mão".
A mão de quem a gente ama é a nossa luva. Mas com sangue quente a encurtar os batimentos cardíacos espaçados pelo fim.
A mesma mão de sempre e tão nova.
A mão materna na hora de atravessar a rua. A mão paterna mexendo de orgulho nossos cabelos. A mão da caligrafia dos cadernos, com a cabeça inclinada na mesa. A mão brincando com o graveto na boca do cachorro. A mão boba no cinema. A mão para levantar o véu branco da esposa. A mão ansiosa a segurar o primeiro passo do filho.
A mão assustada de ternura. Ossuda, magra, com as veias azuis pedindo passagem. Envelhecida, absolutamente carente, que vai acenar de verdade apertando outra mão.
7 comentários:
Fabrício, você nasceu para colocar no papel através das palavras, um pouco da vida, do dia a dia, daquilo que nos pertence, que nos emociona.
Para mim, na atualidade e sem "puxa-saquismos" você é o melhor escritor, sem sombra de dúvidas.
Amo colocar suas frases do twitter no meu blog.
Suas crônicas são especiais!
Um abraço da sua fã.
A mão adolescente que nos apresenta ao prazer?
Há braços!!
É verdade ! Meu pai sempre dizia que se ele morresse queria que minha mãe segurasse a mão dele.Mas na hora em que isto aconteceu foi qdo eu entrei na UTI e vi os médicos bombeando oxig~enio.E segurei a mão dele com todo amor que eu sentia e sino.Um minuto depois ele apertou minha mão de leve e deu seu último suspiro.Fiquei feliz dele sentir uma mão segurando a dele!
bjks
a gente nasce com a mão fechada e, depois que morre, a mão se abre.
deveríamos exercitar o desapego desde cedo. normalmente, ele vem muito tarde.
adorei o texto.
:)
Lindo post! ;)
Lindo texto, adorei também o comentário da Daniele. Vamos dar as mãos desde já, abrir o coração!
Simplesmente maravilhoso e emocionante 💗💗💗
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