terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SEGURAR UMA MULHER É IGUAL A BATER

Arte de Oskar Kokoschka

O homem é violento.

Se você acredita que não é perigoso, é ainda mais selvagem. Sua raiva está reprimida, prestes a desaguar por um motivo banal.

Não brigamos intencionalmente, brigamos por soberba, quando nos julgamos imunes ao pior e terminamos pegos desprevenidos pelo monstro que somos.

Todo homem requer consciência de sua agressividade para nunca desrespeitar uma mulher.

Não deve confiar nas aparências, alegar que é educado, que é sensível, que é romântico – este é o caminho mais rápido à fatalidade.

Todo homem, apesar da feição civilizada, é um pugilista manso, um lutador amarrado, um arruaceiro contido.

A violência doméstica não é exclusividade dos outros, não é possessão do demônio.

Você é violento, não se sinta mal, não está sozinho nisso, eu sou violento, talvez mais violento do que um cão com raiva, do que um tigre magro, do que um leão levemente envelhecido.

É normal a coexistência da maldade e da bondade, do claro e do escuro, do divino e do bestial num só gesto.

Poeta, engenheiro, arquiteto, violinista, florista, não há profissão que nos salve do grito, dos punhos fechados e da ânsia de eliminar a resistência na base da força.

A questão é não permitir a ebulição da ira. Fugir das situações de descontrole, do deboche e da penúria do humor.

Evite se expor às ofensas por mais de duas horas – há uma cota de desaforo suportável pelo sangue.

O homem é Etna, é Fuji, é Vesúvio, um vulcão adormecido que pede vigilância perpétua.

Não batemos porque somos provocados. Batemos porque desejamos acabar com a crise de qualquer jeito. Batemos porque não nos conhecemos, e sempre deduzimos que uma agressão na adolescência representou uma exceção, que uma vez trocamos sopapos no trânsito para nos defender. Deliramos que o ato de jogar a cadeira na parede apenas traduziu um momento.

Nenhuma justificativa pode disfarçar o problema de fundo: somos naturalmente violentos. Ouça-me enquanto é cedo e não ameaça sua companhia.

Nenhuma explicação abafa o ódio. Reconstituição somente existe depois da morte, o inferno e o Presídio de Charqueadas estão lotados de desculpas.

Tatue a Maria da Penha nas pálpebras, tome as providências para não se achar imutável e maior do que a realidade.

Esmurrar a porta já é invasão. Arranhar a mulher já é soco. Empurrar a mulher já é espancamento. Não invente atenuantes.

E, por favor, não segure sua mulher, mesmo que seja para acalmá-la, mesmo que seja para contê-la, mesmo que seja para abraçá-la e dizer que a ama. Segurar num momento de tensão é igual a bater. Agredir sempre foi simples demais. A ternura que é trabalhosa, a ternura que não é de graça, a ternura que leva tempo.

Cuide de si para cuidar de sua esposa.



Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 7/02/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 16972

16 comentários:

Anônimo disse...

Lindo....

Lais disse...

Não concordo que seja coisa de homem, acho que é coisa do ser humano. Mulher também é violenta.

Leninha Brandão disse...

Amigo Carpinejar,

Concordo com a Lais,o ser humano é violento,independente do sexo...posso falar de cadeira,pois sou uma pessoa calma e tranquila,mas se estiver tomada pela raiva,não sei me controlar.
Bjssssss,
Leninha

Viviane Zion disse...

Ai Fabrício, quanta coragem! Admitir algo assim não é nada fácil... Parabéns e obrigada. Talvez seja útil relembrar à mulheres de plantão, que não compensa provocar a ira do companheiro: quando um não quer, dois não brigam - e mulher tem cá o jeitinho de tirar o homem do sério, não é verdade?!
Um abraço.

Eliane Ratier disse...

cada vez mais um tradutor do humano, beijo

http://poesiaeteologia.blogspot.com/ disse...

Sabemos das exceções, mas temos que admitir que a constituição física do homem é diferente da mulher. Geralmente possui mais força física e é essa característica que o constitui e ao mesmo tempo o diferencia que é usada com a finalidade de oprimir gerando violência contra a mulher.

Independente das mulheres possuírem um instinto tão animal quanto, não justifica e não muda a realidade de que mulheres são violentadas física e moralmente e esse texto contribui muito para a reflexão e coopera para mudança de alguns "hábitos" que devem ser mudados enquanto é tempo!

Anônimo disse...

desapontada

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Concordo, camarada.
Mas essa violência faz parte da natureza humana. Acredito que as consequências em função da força que a raiva provoca pode ter consequências mais graves no caso dos homens, comparado com as mulheres...
Abraços!

ana disse...

Concordo com o comentário acima do Profex. Auto-domínio é para todos,
mas para o homem é crucial.

Unknown disse...

Concordo com a Luciana, a mulher pode ser tão violenta quanto, mas o estrago causado por um homem em decorrência disso é com certeza muito pior.

E ainda eu tive o imenso desprazer de ler que um homem comentou o seguinte num video do Youtube:

"As mulheres acham lindo bater em homens em tempos de igualdade. Pq a igualdade não é conveniente na hora de apanharem como homens? Ahhh aí elas voltam a ser frágeis e vão chorar por leis Marias da Penha e fazer aquele teatrinho vitimista que só mulher sabe fazer."

Anônimo disse...

esta totlmente correto venhamos e convenhamos isso serve pra todos sem distinçao de sexo , religiao e por ai se vai

Luciana Gonçalves disse...

Seria bom se homem que é homem realmente assumisse a sua brutalidade e a enrustisse.
Sim, ele é bruto, mas podendo se controlar se ele for sensato.

http://poesiaeteologia.blogspot.com/ disse...

De acordo com o texto, esmurrar a porta é invasão. Arranhar é como dar um soco (me parece que essa atitude é mais própria de uma mulher do que de um homem). Empurrar é igual espancar uma pessoa.

É óbvio que a prática dessas ações não tem distinção de sexo, pois o ser humano é capaz de ser violento.

Mas, repito: isso não justifica o fato de que muitos homens se utilizam da força para oprimir, violentar e dominar as mulheres.

NÃO HÁ JUSTIFICATIVAS PARA TAIS ATOS, ISSO É COVARDIA, É UM CRIME!

Conforme está no texto, ser humano é violento, mas também
é capaz de ter autodomínio, de agir com ternura ainda que para isso leve tempo. E para isso é preciso tomar algumas providências!

penabunda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
penabunda disse...

Porquê machismo é uma palavra ruim e feminismo, um vocábulo com o benefício da dúvida? O título da crônica, assim como seu conteúdo tangível, deve ser uma liberdade poética, uma cantada metafísica, porém, no texto nada onírico da lei, pode conter uma verdade perigosa. Triste País onde não se soluciona as coisas. Se faz desvios como esta inconstitucionalidade. A justiça não funciona? Busca-se o jeitinho, uma gambiarra jurídica que, em tese e em visão romantizada, protege a mulher em situação de violência e, na prática, pode terceirizar ao Estado a vingança em uma separação sem comum acordo. Nestas passionais questões, descontando os crimes, a violência pode estar na forma como as partes sentem uma ruptura ou uma rejeição. Uns reagem com dignidade , com versos, outros a bala e muitos, menos divulgados, com a Maria errada. Deveria ser a Bethânia. Um simples "acabou" pode ser uma estocada, para um coração que não aceita ser contrariado. E, pior, a frieza desta lei de gênero aceita isso como se fosse da natureza masculina, tangível e intencional. Aí que, a amarga ou doce melancolia de uma poesia de amores findos, se espatifa sobre o concreto da legislação, a qual transmuta subjetividades em, daí sim, violência física e psicológica. Não se busca a igualdade promovendo a discriminação.

Unknown disse...

inacreditavel!!!!!!! o texto esta otimo porem os comentarios de algumas pessoas parecem ser de seres humanos alienados a realidade do mundo .A violência contra a mulher é entendida como qualquer ato ou conduta, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto público como privado.Estima-se que mais da metade das mulheres agredidas sofram caladas e não pediram ajuda. A vergonha, dependência emocional pelos filhos ou financeira do agressor são alguns dos principais motivos para este silêncio. se voce fala que sendo mulher nao sabe ate onde vai quando esta brava quem dera um homem que com sua força pode deixar varias marcas de tristeza e destruição em familias e criança, vamos ser mais realistas as caras colegas que dizem que não são apenas os homens agressores e me respondam qual é a frequência em noticiários de que uma mulher alcolizada matou seu esposo e seus filhos de tando bater, ou que perseguiu seu companheiro e matou em um beco pois não aceitava o fim do relacionamento, quantas vezes você já viu em noticiarios que uma mulher foi capaz de estrupar um homem.isso nao é esclusividade de noticiarios mas sim da realidade fora da tv os abrigos os postos de saude na delegacia perguntem quantos homens foram ser atendidos apos terem apanhado de suas parceras de modo a dilacerar rosto quebrar parte do corpo? claro que a raiva nao é coisa de homem é coisa de todos os seres da terra mas o abuso de uso da força é sim privilegio dos homens pois nao ha como comparar a força de um homem com a de uma mulher.
nao seja conivente quando um nao quer dois nao brigam se o home nao for agressivo quando a mulher der uma de "doida" e o agredir ele vai usar do bom senso e sair ate que ela se acalme ou chamar a policia que possa fazer isso por ele mas nao bater isso jamais
Estima-se que mais da metade das mulheres agredidas sofram caladas e não pediram ajuda. A vergonha, dependência emocional ou financeira do agressor são alguns dos principais motivos Em termos simples, bater no cônjuge é um grave pecado aos olhos de Deus. Na Sua Palavra, a Bíblia, lemos: “Os maridos devem estar amando as suas esposas como aos seus próprios corpos. Quem ama a sua esposa, ama a si próprio, pois nenhum homem jamais odiou a sua própria carne; mas ele a alimenta e acalenta, assim como também o Cristo faz com a congregação.” — Efésios 5:28, 29.