quarta-feira, 10 de julho de 2013

MEU IRMÃOZINHO ESTÁ DE ANIVERSÁRIO

Arte de Fabrício Carpinejar

Eduardo Nasi caminha cheio de moleskines no bolso. Seu bolso é uma prateleira.

Ele reforça o figurino de casacos para carregar mais cadernos. Mesmo que seja um calorão.

Desenha de pé na Paulista, nos cafés, nos restaurantes.

Armado de cinco canetas especiais, onde mistura portas e janelas.

Jamais põe óculos escuros para não espelhar as pessoas. Não pretende ser espelho de ninguém — é falta de educação.

O elevador é mal-educado, ele não. A cama de motel é mal-educada, ele não.

Eduardo Nasi anda como um pássaro. Em pulinhos. Parece que vai voar assim que alcançar a primeira esquina.

Seu pensamento gira rápido, suas ideias não têm pescoço.

É paciente ao extremo. Não leva desaforo para casa — arranja um cinema ou um teatro ou uma exposição no fim do seu expediente.

Sua rotina nunca sai conforme o planejado. É uma rotina esclerosada.

O que mais adora fazer é cozinhar para si. Lasanha vegetariana, por exemplo. Ele diz que a lasanha vegetariana nasceu mesmo para a solidão.

Eduardo Nasi é gentil, quase caridoso em sua gentileza. Fala calmo, manso. Não guarda nada de ópera, apesar de amar ópera.

Jamais mostra a namorada aos amigos para não gerar inquéritos e fofocas. Apresenta apenas a namorada quando já é ex. Conheci todas as suas ex, nenhuma atual.

Sua dificuldade é comprar sapatos. Considera os sapatos masculinos iguais. Alega que falta argola e salto no homem.

Nasi me conheceu como poeta, me desconheceu como cronista. Somos amigos há quinze anos. Nos telefonamos meia-noite e meia, quando estamos cansados e não vamos mais mentir.

Ele costuma explicar que não perde tempo conversando comigo antes. Por quê?

— Você unicamente passa a falar sério depois da meia-noite. Antes, é ficção.

Ele emprega o você, não mais o tu gaúcho. Traz tiradas maravilhosas. Seu sarcasmo vive se jogando do viaduto. Diz que abandonar a terapia é também receber alta. Somente alguém bem resolvido é capaz de negar a mãe, o pai e depois o terapeuta.

A orfandade emocional é a perfeição.

Ele trabalha como publicitário, formou-se como jornalista, é um contista invisível.

Odeia ponto-cruz. Odeia roupa com ponto-cruz. Odeia brilhos com ponto-cruz. A virtude do ódio é que não precisamos explicá-lo, é regido por arbitrariedades.

Nasi usa bengala para endireitar o olhar do outro. Usa suíça para implicar com o olhar do outro. Usa lenço na fatiota para mostrar que o passado é exuberante.

É um ancião com menos de 40 anos.

Ele nasceu em Porto Alegre, mas surgiu em Berlim.

Eu amo muito Eduardo Nasi.

Ele só existe em minha imaginação, mas eu empresto a você todos os dias.






Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira

5 comentários:

Ritinha disse...

Bom dia!!!
Sentimentos bons para pessoas boas.
Sentimentos nobres para quem amamos e merece.
Linda postagem.
Parabens a causa da inspiração.
bjo
Ritinha

Priscyla Targino disse...

Um cara que adoraria conhecer, mesmo. :)

Mileny Squilasse Pestana disse...

AMEI!!!


Beijos,



Mileny- Osasco

Bela Campoi disse...

Muito prazer!

Anônimo disse...

Bem legal o seu blog..

Aproveito para repassar o blog do meu amigo.. Ele começou as postagens recentemente e falam sobre coisas que geralmente não dedicamos muito tempo para pensar mas deveriamos.

http://www.umultimopensamento.blogspot.com.br/

Forte abraço!