segunda-feira, 13 de junho de 2016

ATÉ A LIGAÇÃO CAIR



Faço a ronda telefônica com os meus amigos: José Klein, Mário Corso, Voltaire, Everton e Eduardo Nasi. É a ala masculina da fofoca. Todo dia falo com eles antes de começar as atividades mais pesadas do trabalho. Eles são a minha fonte de notícias, ideias de crônicas, não me deixam alienado dos principais acontecimentos noturnos da cidade. Como também efetuam a minha manutenção emocional e dou, em contrapartida, um suporte para os seus amores e dissidências.

Não pulo nenhum deles da rotina matinal e do plantão sentimental. Qualquer homem de bem tem seu bar predileto e seus apóstolos. O compromisso está acertado pelo sangue do destino. Eu escreverei a biografia deles exagerando as suas proezas, eles escreverão o meu necrológio mentindo a meu respeito. Somos leais aos sonhos mais do que aos fatos.
O engraçado é que se a ligação cai ninguém telefona de volta.

É uma etiqueta dos machos.

Diferente do tricô do timbre da mulher com as amigas, não há desespero ou mal-estar. Entendemos a fragilidade das operadoras, os vários pontos sem cobertura pelos bairros. Fazemos de conta que acabou o crédito, simples assim. Aceitamos generosamente o inesperado. O que não era para ser não será. Não confundimos a falta de retomada com indiferença e aspereza. Não nos penalizamos com hipóteses fatalistas de assalto e acidente. Não temos aquela paranoia de supor que o outro desligou na cara – coisa que só ocorre no início dos romances. Não cobramos um tchau e um aceno solene.

Eu acho que inclusive gostamos da roleta-russa da voz. É um suspense que acelera o raciocínio e previne a incontinência verbal.

Guardamos uma simpatia por não precisar enrolar com a despedida e sermos educados a ponto de ouvir o que não nos interessa.

Falamos até cair – é o nosso pacto. E vai cair, não há dúvida disso com o congestionamento caótico de linhas e sinais neste mundo.

O que não foi dito repassamos automaticamente para o próximo papo. Pendências não viram tragédias. Homem não sofre com o que ficou inacabado e imperfeito.

Para que insistir? Resumimos o que nos incomoda em 10 minutos, menos ainda. Talvez num grito ou num bah!

Amigo é econômico no afeto, mas sempre pontual na tristeza.

Publicado no Caderno Donna no Jornal Zero Hora
12.06.2016

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola carpinejar preciso de um olhar de fora para que possa dar uma opiniao.Bom sou de sp (27) casado a um ano, acontece que amo minha esposa (22) e preciso de umas ferias dela. Ha muito nao tenho tempo pra mim, pois ela quer tudo pra ela, ela quer toda atencao, ela quer todo carinho, ela quer todo amor e sinto que ja nem sei mais quem sou.
Basta eu dizer - Amor, vou no zé assistir o jogo - ela vem com questionario, de quem vai estar la, com quem vou, pq eu nao fico, pq eu vou, que horas volto ou diz que vai junto. . . Chego a ouvir ameças de que ela vai em otro bar (tambem proximo d casa onde só tem "amigos" homens), acontece que ela nao queria sair a 2 minutos atras e agora quer? Isso esta errado! ( nao impesso de sair mas desde que seja por vontade propria). Bom, nao tenho meu tempo e isso esta me aborrecendo e essa carencia me preocupa, deixo de conversar com amigos sobre coisas entre elas trabalho e sinto q posso ate estar perdendo algum.
Ela nao tem amigas nao tem familia ( nao que valha a pena), ela precisa d mim, fico comovido c a situacao e acabo sedendo mas as vezes penso em fugir. Falo a ela essas coisas de amor proprio, a felicidade vem de si e tal mas é um trabalho de formiguinha. As vezes me confundo com algum pai que ela nunca teve.
Oq fazer nesta situaçao ?