segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A FALTA DE CONTROLE

Não inventaram um portão eletrônico que se abre de longe. Por mais que os vendedores digam que é somente questão de uso. É uma balela. Todos os motoristas de meu bairro passam pelo constrangimento. Não há um objeto mais xingado do que o controle da garagem, mais do que o telefone tocando sem parar no sábado e domingo com oferta de telemarketing.

O controle ativado a distância é a maior mentira da civilização. Não compreendo como somos tão avançados em tecnologia e não resolvemos nem o controle neolítico da garagem, muito menos o interfone, sempre barulhento, sempre trocado semestralmente pelo síndico com a esperança de que "agora vamos resolver".

Você aperta o comando a meia quadra, nada acontece, depois a 100 metros, 50 metros, 30 metros, 20 metros, 10 metros, e não abre. Você está beijando o portão e ele não se mexe.

Quer entrar rapidamente na garagem para evitar assaltos, mas não funciona a mágica. Eles vão dizer que é problema de pilha, a mesma desculpa. Mas o controle é novo, recente, o 15º modelo.

Desejam enganar quem, logo nós, peritos e velocistas dos controles de televisão e ar-condicionado?

Você aperta histericamente os dois botões (por que dois botões? Já sugere que um deles não é confiável).

Não há explicação, tenta encontrar um jeitinho no manuseio, pressionando bem em cima, nos ladinhos, segurando por três segundos, dando um toque rápido, mas nenhum sinal de levantar a grade. Daí você baixa a janela, fica estendendo o braço para fora desesperadamente, pedindo carona para a sorte. Começou a rezar. Começou a proferir o patético "abre-te sésamo". Começou a delirar. Em seu medo, já foi sequestrado, coberto por um capuz, torturado e o seu cadáver repousa agora no porta-malas.

É muito tempo perdido, já estaria dentro de casa se o portão fosse manual como na infância.

É uma vergonha ter que sair, deduz que os vizinhos estão nas arquibancadas das janelas observando a sua incompetência. Só que não tem mais o que fazer. Apaga o veículo, puxa o freio de mão e perde a aposta consigo mesmo. Desce do carro. Desce e aponta o controle perto das barras, derrotado.

E o portão sobe lentamente e você entra na boca aberta do prédio rindo de sua cara.

Um comentário:

Unknown disse...

Fiz um trabalho sobre você hoje e adorei essa crônica, agradeço minha professora por ter mandado fazer esse trabalho.