Intrigante como os eufemismos defendem os afortunados. Até entender o significado não é mais notícia. Ladrão rico é cleptomaníaco. Infiel rico é maníaco por sexo.
Engraçado como as penas são diferentes. Seguindo o exemplo do ator Michael Douglas, o golfista Tiger Woods teve que se internar para se curar das amantes.
Qualquer mané é obrigado a sair de casa, com as orelhas baixas, ciente de que nenhuma amante vai recebê-lo depois do escândalo. Perderá a casa, terá que se esforçar para rever os filhos e não poderá resmungar um simples pertence durante um bom tempo. Não recebe perdão, identificado como um safado. Um tarado de marca maior que se aproveitou da fragilidade, das discussões e desonrou a relação.
Tiger não. A cerca só não é elétrica para seus pulos. O campeão, coitado, não desfrutava de condições para se conter. Era um viciado incapaz de censuras, dependia urgentemente de tratamento. As escapadas rotineiras do casamento são reconhecidas como uma loucura, um estado temporário de perda de consciência. Não tem responsabilidade, nem deve ser cobrado pela autoria. Similar a receber um feitiço, uma hipnose satânica.
Enquanto uns são lançados às ruas, outros desfrutam de clínicas de reabilitação.
Se o infiel comum ousa se explicar no churrasco familiar, que é a coletiva dos anônimos, será escorraçado como um vira-lata. Sem levar nenhum osso da sua própria costela. Não pode errar, nem tem permissão para dizer que errou. É o caddie eterno do Tiger. Sua missão é segurar os tacos e caminhar, resignado e de boca calada, os quatro quilômetros do campinho.
O sexólatra foge do estigma. Como criticar alguém que adora sexo? O distúrbio sugere uma virtude, insinua um dom.
Busque conversar com quem tem um rendimento menor do que quatro salários mínimos.
- O que você fez?
- Traí minha mulher.
- Que vergonha!
Ou com quem tem um rendimento acima de seis salários mínimos.
- O que você fez?
- Sou maníaco por sexo.
- Mesmo?
Muda completamente a ótica. Despersonaliza a atitude. No caso de Tiger, não se tem noção do número de mulheres envolvidas. É uma multidão sem história, um harém aleatório. Talvez sejam 18 buracos, por uma questão de capricho técnico e fidelidade ao jogo.
O pequeno traidor é o condenado a atravessar pequenos lagos, poços de areia e arbustos do purgatório. Já a bola faz o percurso no lugar de Tiger Woods. Hole in one!
A fama é questão de prática ou de rendimento.
13 comentários:
O capitalismo é capaz de trasnsformar tudo em mercadoria. Numa sociedade onde o Ter vale mais que o Ser. Coisas absurdas são classificadas pelo preço.
Os eufemismos e o politicamente (in)correto ditam a tendência da sociedade moderna: máscaras & hipocrisia.
Acho que pior do que o dinheiro que tem no banco é a forma como são tratados aqueles que tem alguma projeção. Quando o caso foi com a Suzana Vieira e seu sangue-suga de estimação ele também alegou ser viciado em sexo... Acho que mortais comuns também já podem se valer do diagnóstico para justificar desvios de conduta. Basta ter cara de pau e não dinheiro no bolso... Isso é para pouquíssimos...
Deveríamos queimar Tiger Woods? Fazê-lo ir para cadeia por seu crime horrendo? Como se o problema moral você uma questão ética. Ora, essa. Como se a mulher dele deve ter passado a mão na cabeça dele. Acho que Tiger Woods fez fora errado, óbvio, mas isso é um problema dele e de sua mulher... a menos, claro, que você tenha alguma coisa a ver com a história.
Por certo que vivemos num mundo onde prevalece a "lei do mais forte". Aos ricos e poderosos os benefícios, aos demais, o rigor das "leis". Todavia, a traição, a infidelidade igualam a ambos, ainda que assim não sejam igualmente tratados. Belo texto. Boa tarde, ;)
Ele confessou que teve 120 amantes em 5 anos. A cada mês, traiu a mulher com duas fulanas diferentes. Fora os repetecos.
Se isso não é safadeza, não sei o que é.
Concordo plenamente com Daniel Moreira. Parabéns Fabrício pelo texto.
Caro Poeta,
desculpe-me
pelo espaço.
Nada a haver...
Mas...
Sempre existe um MAS
que vira tudo... a haver!
EXORCISMO
by Ramiro Conceição
Diz a lenda que
um deus disse
a um bando de bípedes:
“ A César o que é de César.”
“ A Deus o que é de Deus.”
Logo parece que, pra ele,
dois direitos co-existem:
um, profano, é mortal;
outro, imortal, é sagrado;
no primeiro, uma falta é crime;
no segundo , se define – o pecado;
no primeiro, vivo, se vai pra cadeia;
no segundo, morto, ao avesso do céu.
Então...
Pra onde vão os pedófilos que, por séculos,
fizeram do sacramento da confissão
instrumento de poder – e de sedução?
O que fazer com a cruel Igreja omissa:
todos os dias, somente, rezas e missas?
O que farão com o maior pecado
- aquele para o qual não há perdão -,
o esconderão debaixo da escuridão?
Como dar-se-á o Apocalipse de inocentes
que, por séculos, foram vilipendiados
que se transformaram em monstros de outros
que se transformaram em outros, monstros,
que se transformaram...?
O que se fará com o livre-arbítrio:
um novo livro a loucos por martírios?
Ah, adoradores do minúsculo,
sábios, do dia, só do crepúsculo:
diz a lenda que aos porcos, sem beleza,
sempre existe um abismo... Assim seja!
Concordo plenamente com Daniel Moreira [2].
É aquela velha máxima de que todos são iguais, porém uns um pouco mais iguais do que os outros.
Acho que tem duas esferas aí: a pessoal (que é a única para o traidor pobre) e a financeira. Essa coisa de "viciado em sexo" é estratégia retórica pra tentar reduzir os danos materiais. Já na vida íntima, duvido que as celebridades deixem de pagar ou consigam regatear o preço da pulada de cerca.
Culpa de tweet teu...
http://www.maedecachorro.com.br/2010/05/quando-saudade-e-demais.html
Político, quando trai (o povo), é "perseguido pela oposição".
Sempre tem alguma "força oculta" que isenta, parcial ou totalmente, os puladores de cerca e os Jânios de suas malandragens.
Só muda o ambiente.
Ou então nosso Congresso Nacional seria mesmo o maior rendez-vous já visto neste sisteminha solar e no vizinho...
*Abraço e sucesso!
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