A Frida Kahlo tornou-se um símbolo sexual estranho. Muito estranho. A Madonna do PSTU. A Shakira da CUT.
Toda mulher que é mulher gosta de Frida. Ela não tem admiradoras, mas groupies.
A adoração ultrapassa as referências artísticas, extrapola a genialidade de sua pintura: as cores vibrantes e os quadros enigmáticos com corças feridas e armações de dor e fúria.
Deduzo que o grande número de autorretratos acentuou a fama do rosto, mas ela foi além das galerias e fotocopiadoras: é um ícone pop. Blusa de Frida, chaveiro de Frida, saia de Frida, caneta de Frida, cadeira de Frida.
Ao desenhar um bigode numa folha, somente o bigode, hoje já ficaremos em dúvida se a intenção é caracterizar Chaplin ou Dalí ou Frida Kahlo.
Mas o que ela tem para ser tão desejada?
A liberação anárquica da beleza. É a mais autêntica hippie da arte no corpo. É a força das flores, mais os inços, mais as raízes, mais os arbustos, mais as gramíneas, mais as ervas, mais os troncos. É uma coalizão dos partidos verdes do mundo. Levou a preguiça às últimas consequências. Acima da Yoko Ono e sua feiura de Gremlin. Superior a Janis Joplin e sua juba mística.
Frida é amada porque teve a coragem de não fazer as sobrancelhas, muito menos o buço. Desdenhou da obrigação cosmética e dos condicionamentos estéticos.
Com seu rosto de monumento asteca, ousou gritar para sua mãe: — Hoje não!
Realizou o sonho da mulher barbuda, abriu a frente da bissexualidade, reuniu os complexos de Electra e de Édipo numa única rima labial.
Frida não precisou enfrentar o martírio de desbastar, a cada quinze dias, com cera quente ou satinelle, a floresta amazônica das axilas. Não gastou um centavo nos salões. Não se preocupava em tirar a sobrancelha, errar a medida para depois se arrepender e substituir o traçado natural com tatuagem definitiva. Não recusou encontros com amantes — Trotsky foi um deles — por vergonha de suas pernas cabeludas. Não pediu desculpa por arranhar o rosto de seu marido Diego Rivera.
É absolutamente broxante para os homens, e encantadora para as meninas.
Quando o marido fala que alguém está parecida com a mexicana é deboche. Quando a esposa comenta o mesmo é elogio.
Para a ala masculina, é como filme da Alemanha Oriental. Eu não queria ser comunista desde cedo, assim que descobri que as principais atrizes das produções soviéticas ostentavam sovaco cabeludo. Os capitalistas erraram a propaganda: para que mentir que comunista comia criança? Era só contar a verdade: no regime, as mulheres não se depilavam. O muro de Berlim teria caído antes.
Crônica publicada no site Vida Breve
16 comentários:
E quando passo mais de 15 dias sem me depilar, fico com cara de Frida Kahlo, sempre lembro dela em todos os meses. Realmente é como uma liberdade, outra pessoa já foi dessa maneira - e conhecida.
Esses parágrafos tão curtos e tão bons...
Frida realmente é uma ameaça para nós homens. Mérito dela só no mundo das idéias, na realidade, ela deve ser caçada!
Abraço
A liberdade de Frida não é tão intensa uma vez que pára em seu amor incondicional por Diego Rivera. O que seduz em Frida não é seu exotismo - vc talvez tenha caído na mesma visão dos leitores da Vogue daquela época - mas sim sua capacidade de aguentar a dor. A dor física e a dor moral de se saber apenas aparentemente livre. O corpo a prendia e não a libertava como vc induz a crer.
Hahaha muito engraçado! Admiro a Frida obviamente por razões diferentes das que tu apontou, mas achei bem divertidas as tuas razões. Ela não queimou o sutiã, ela boicotou a cera depilatória hahahah!
Mas confesso que a primeira vez que vi a axila de uma hippie fiquei muito chocada.
LER ATÉ O FIM, FOI UMA TORTURA! PRECISO DE UM "UP"!!! -SINCERAMENTE, Dirla.
Eu pegava o Trotsky, facinho. Belo texto, Fabs!
Vivemos amarrados aos estereótipos, alguém, em algum momento, determinou que deveria ser assim e acabou virando consenso. Os diferentes existem para nos afirmar que pode ser de outro jeito! Belo texto Fabrício!
Paulo Ednilson
isso foi tétrico. tanto pelo que disse sobre a Frida quanto o que disse sobre o comunismo.
O verbo Carpinejar
E a professora ensina aos seu alunos:
- Verbo é o nome dado à classe gramatical que designa uma ocorrência ou situação. Os verbos no infinitivo terminam em ar, er, ir...
E exemplos são dados: amar, correr, fugir...
E então a aluna se depara com Carpinejar. E tenta entender que verbo é este. Tenta conjugar. E a professora fala:
- Carpinejar é um substantivo próprio, não pode ser conjugado.Escolhe outro.
Mas a conjugação é feita mesmo assim. E a aluna, munida de ânsias no desafio, tenta extrapolar as regras da Língua Portuguesa e conjuga sentimentalmente o substantivo próprio Carpinejar:
Eu carpinejo sempre que a ousadia e a melancolia moradoras do meu íntimo brigam por quererem me aprisonar.
Carpinejei quando fui tomada por uma ilimitação do ser e sorri pelas graças e desgraças existentes.
Carpinejarei quando eu extrapolar as essências mais loucas habitantes do meu eu.
Crapinejando eu vou, vou encontrando comigo em mim, contigo em ti e , assim, desencaixandos os encaixes.
Carpinejamos. Carpinejaremos. Sempre. Sempre que as amarras se desfizerem e nossas ausências forem alimentadas pelos desejos dos acasos.
-Realmente, caros alunos. Carpinejar é um verbo. Um verbo intransitivo.
Aquele que dispensa qualquer complemento.
*Postei no meu blog e ousei em mandar!
Abçs
Rita
Superou-se!
Seu besteirol literário beira a um stand up medíocre; ri ou adula quem é idiota ou ignorante, como você.
Fica, além da indignação por sua estupidez,
indicações de livros para os menos nécios daqui conhecerem a grandeza de Frida:
Frida Kahlo Suas Fotos
El Diario de Frida Kahlo
Diego e Frida - Biografia
Aliás, o desenho infantil de sua namorada ilustra bem este texto sem pé nem cabeça,
ainda bem que não postou um Frida Kahlo...
Tá na hora de rever seus conceitos...
... o mundo real não é um picadeiro ou um salão de vaidades; palhaço das letras!
Humberto
Oi Fabrício, boa lembrança essa de Frida. È uma polêmica no cotidiano em plena era inclusiva que luta contra as diferenças e preconceitos. Na mira dos excluídos, o mundo das diferenças move-se no eixo dos preconceitos. A vaidade faz pensar nas leis que impõe regras. Quais leis? Quais regras? Quais os autores? Quem sancionou? É demais para quem quer assumir a sua própria identidade fluindo na sua existência. Frida é a representação dos primeiros habitantes do paraíso divino, dispostos a amar no comando da sexualidade anatômica. Quis apenas dissolver as tragédias acidentais do acaso. No vazio da sua alma a solidão pulsava suas frustrações. Como alívio e distrações dos sofrimentos, escolheu amar a todos sem distinções genitálias, inclusive a si mesma quando se relacionava amorosamente com o espelho da sua imagem, pois acredito que ao se relacionar com homens Frida amava o outro e quando se relacionava com mulheres amava a si mesma. No palco das escolhas era um personagem de pele, sem sexo, no momento oportuno decidia: Sou homem, agora quero ser mulher. Até porque, o que seria da amizade entre os sexos se amar fosse só sexo? Pra mim o mundo acabaria. No amor o sexo é apenas um bom detalhe, o melhor é o recheio das coisas que completa e faz bem ao viver. Como a companhia, a convivência, as trocas de idéias, distrações com ótimas doses de humor só para adoçar a vida, e outras coisitas a mais. O excesso dos pêlos dérmicos é o mesmo que aceitar a sua naturalidade virginal (é o caso de Frida) e ao usar as normas da beleza feminina desamparando a pele com ceras ou outros meios para o descabelamento dos membros e das intimas partes, só para incluir no estilo padrão a falsa beleza cuidada, muitas vezes a contra gosto. Pura hipocrisia e cinismo de Mona Lisa, (crítica particular do filme: O sorriso de Mona Lisa, recomendo, é muito bom para refletir e rever os conceitos, eu gostei) sem identidade própria, não é feliz, mas que aparenta ser, agrada a todos e pode fazer qualquer um feliz menos a si, que concorda só para agradar, que sorrir sem saber a causa. Que as Fridas atuais resgate e conquiste seus espaços e decidam seus destinos. Que sejam capazes de optar pelas suas relações e realizações pessoais e profissionais e que procure não ser uma Mona Lisa, cínica e hipócrita. Independente das escolhas, o que importa nessa vida é ser feliz. Toda beleza tem sua feiúra e toda feiúra tem sua beleza, dependendo do que faz sentido para cada um. Com ou sem pêlos a mulher só quer e precisa ser amada.
Margareth.
Qual mulher não gostaria de ser desapegada ao mercado estético? Mas olha só: Não dá para levantar a bandeira do PSTU, sem estar depiladinha nas axilas, poxa! Ao menos um prestobarba, né?
isso foi tétrico. tanto pelo que disse sobre a Frida quanto o que disse sobre o comunismo. [2]
Postei teu texto [com créditos e link] em meu Blog. Podia?
A-mei!
Amigo Fabrício, somos geração "X" contagiados pela geração "Y" pertencemos ao clã dos que não se contentam com um só olhar, que não se limitam a um só ângulo, é preciso, a priori, desconstruir para construir algo que mereça ser observado. A arte consiste nisso. E você é do nosso tempo (o tempo dos menos nécios) quem melhor faz isso. Reiteirados parabéns! Belo texto!
Paulo Ednilson
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