quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

FRIDA E FRITZ

Arte de Cínthya Verri


A Frida Kahlo tornou-se um símbolo sexual estranho. Muito estranho. A Madonna do PSTU. A Shakira da CUT.

Toda mulher que é mulher gosta de Frida. Ela não tem admiradoras, mas groupies.

A adoração ultrapassa as referências artísticas, extrapola a genialidade de sua pintura: as cores vibrantes e os quadros enigmáticos com corças feridas e armações de dor e fúria.

Deduzo que o grande número de autorretratos acentuou a fama do rosto, mas ela foi além das galerias e fotocopiadoras: é um ícone pop. Blusa de Frida, chaveiro de Frida, saia de Frida, caneta de Frida, cadeira de Frida.

Ao desenhar um bigode numa folha, somente o bigode, hoje já ficaremos em dúvida se a intenção é caracterizar Chaplin ou Dalí ou Frida Kahlo.

Mas o que ela tem para ser tão desejada?

A liberação anárquica da beleza. É a mais autêntica hippie da arte no corpo. É a força das flores, mais os inços, mais as raízes, mais os arbustos, mais as gramíneas, mais as ervas, mais os troncos. É uma coalizão dos partidos verdes do mundo. Levou a preguiça às últimas consequências. Acima da Yoko Ono e sua feiura de Gremlin. Superior a Janis Joplin e sua juba mística.

Frida é amada porque teve a coragem de não fazer as sobrancelhas, muito menos o buço. Desdenhou da obrigação cosmética e dos condicionamentos estéticos.

Com seu rosto de monumento asteca, ousou gritar para sua mãe: — Hoje não!

Realizou o sonho da mulher barbuda, abriu a frente da bissexualidade, reuniu os complexos de Electra e de Édipo numa única rima labial.

Frida não precisou enfrentar o martírio de desbastar, a cada quinze dias, com cera quente ou satinelle, a floresta amazônica das axilas. Não gastou um centavo nos salões. Não se preocupava em tirar a sobrancelha, errar a medida para depois se arrepender e substituir o traçado natural com tatuagem definitiva. Não recusou encontros com amantes — Trotsky foi um deles — por vergonha de suas pernas cabeludas. Não pediu desculpa por arranhar o rosto de seu marido Diego Rivera.

É absolutamente broxante para os homens, e encantadora para as meninas.

Quando o marido fala que alguém está parecida com a mexicana é deboche. Quando a esposa comenta o mesmo é elogio.

Para a ala masculina, é como filme da Alemanha Oriental. Eu não queria ser comunista desde cedo, assim que descobri que as principais atrizes das produções soviéticas ostentavam sovaco cabeludo. Os capitalistas erraram a propaganda: para que mentir que comunista comia criança? Era só contar a verdade: no regime, as mulheres não se depilavam. O muro de Berlim teria caído antes.



Crônica publicada no site Vida Breve

16 comentários:

Camila Fontenele disse...

E quando passo mais de 15 dias sem me depilar, fico com cara de Frida Kahlo, sempre lembro dela em todos os meses. Realmente é como uma liberdade, outra pessoa já foi dessa maneira - e conhecida.

Anônimo disse...

Esses parágrafos tão curtos e tão bons...
Frida realmente é uma ameaça para nós homens. Mérito dela só no mundo das idéias, na realidade, ela deve ser caçada!
Abraço

DMA disse...

A liberdade de Frida não é tão intensa uma vez que pára em seu amor incondicional por Diego Rivera. O que seduz em Frida não é seu exotismo - vc talvez tenha caído na mesma visão dos leitores da Vogue daquela época - mas sim sua capacidade de aguentar a dor. A dor física e a dor moral de se saber apenas aparentemente livre. O corpo a prendia e não a libertava como vc induz a crer.

Gabriela disse...

Hahaha muito engraçado! Admiro a Frida obviamente por razões diferentes das que tu apontou, mas achei bem divertidas as tuas razões. Ela não queimou o sutiã, ela boicotou a cera depilatória hahahah!
Mas confesso que a primeira vez que vi a axila de uma hippie fiquei muito chocada.

Persona Dirla diss disse...

LER ATÉ O FIM, FOI UMA TORTURA! PRECISO DE UM "UP"!!! -SINCERAMENTE, Dirla.

Dalva M. Ferreira disse...

Eu pegava o Trotsky, facinho. Belo texto, Fabs!

Paulo Ednilson disse...

Vivemos amarrados aos estereótipos, alguém, em algum momento, determinou que deveria ser assim e acabou virando consenso. Os diferentes existem para nos afirmar que pode ser de outro jeito! Belo texto Fabrício!
Paulo Ednilson

Vital disse...

isso foi tétrico. tanto pelo que disse sobre a Frida quanto o que disse sobre o comunismo.

Rita disse...

O verbo Carpinejar

E a professora ensina aos seu alunos:


- Verbo é o nome dado à classe gramatical que designa uma ocorrência ou situação. Os verbos no infinitivo terminam em ar, er, ir...


E exemplos são dados: amar, correr, fugir...


E então a aluna se depara com Carpinejar. E tenta entender que verbo é este. Tenta conjugar. E a professora fala:


- Carpinejar é um substantivo próprio, não pode ser conjugado.Escolhe outro.


Mas a conjugação é feita mesmo assim. E a aluna, munida de ânsias no desafio, tenta extrapolar as regras da Língua Portuguesa e conjuga sentimentalmente o substantivo próprio Carpinejar:


Eu carpinejo sempre que a ousadia e a melancolia moradoras do meu íntimo brigam por quererem me aprisonar.


Carpinejei quando fui tomada por uma ilimitação do ser e sorri pelas graças e desgraças existentes.


Carpinejarei quando eu extrapolar as essências mais loucas habitantes do meu eu.


Crapinejando eu vou, vou encontrando comigo em mim, contigo em ti e , assim, desencaixandos os encaixes.


Carpinejamos. Carpinejaremos. Sempre. Sempre que as amarras se desfizerem e nossas ausências forem alimentadas pelos desejos dos acasos.




-Realmente, caros alunos. Carpinejar é um verbo. Um verbo intransitivo.


Aquele que dispensa qualquer complemento.


*Postei no meu blog e ousei em mandar!
Abçs

Rita

Anônimo disse...

Superou-se!
Seu besteirol literário beira a um stand up medíocre; ri ou adula quem é idiota ou ignorante, como você.
Fica, além da indignação por sua estupidez,
indicações de livros para os menos nécios daqui conhecerem a grandeza de Frida:

Frida Kahlo Suas Fotos
El Diario de Frida Kahlo
Diego e Frida - Biografia

Aliás, o desenho infantil de sua namorada ilustra bem este texto sem pé nem cabeça,
ainda bem que não postou um Frida Kahlo...

Tá na hora de rever seus conceitos...
... o mundo real não é um picadeiro ou um salão de vaidades; palhaço das letras!

Humberto

Margareth disse...

Oi Fabrício, boa lembrança essa de Frida. È uma polêmica no cotidiano em plena era inclusiva que luta contra as diferenças e preconceitos. Na mira dos excluídos, o mundo das diferenças move-se no eixo dos preconceitos. A vaidade faz pensar nas leis que impõe regras. Quais leis? Quais regras? Quais os autores? Quem sancionou? É demais para quem quer assumir a sua própria identidade fluindo na sua existência. Frida é a representação dos primeiros habitantes do paraíso divino, dispostos a amar no comando da sexualidade anatômica. Quis apenas dissolver as tragédias acidentais do acaso. No vazio da sua alma a solidão pulsava suas frustrações. Como alívio e distrações dos sofrimentos, escolheu amar a todos sem distinções genitálias, inclusive a si mesma quando se relacionava amorosamente com o espelho da sua imagem, pois acredito que ao se relacionar com homens Frida amava o outro e quando se relacionava com mulheres amava a si mesma. No palco das escolhas era um personagem de pele, sem sexo, no momento oportuno decidia: Sou homem, agora quero ser mulher. Até porque, o que seria da amizade entre os sexos se amar fosse só sexo? Pra mim o mundo acabaria. No amor o sexo é apenas um bom detalhe, o melhor é o recheio das coisas que completa e faz bem ao viver. Como a companhia, a convivência, as trocas de idéias, distrações com ótimas doses de humor só para adoçar a vida, e outras coisitas a mais. O excesso dos pêlos dérmicos é o mesmo que aceitar a sua naturalidade virginal (é o caso de Frida) e ao usar as normas da beleza feminina desamparando a pele com ceras ou outros meios para o descabelamento dos membros e das intimas partes, só para incluir no estilo padrão a falsa beleza cuidada, muitas vezes a contra gosto. Pura hipocrisia e cinismo de Mona Lisa, (crítica particular do filme: O sorriso de Mona Lisa, recomendo, é muito bom para refletir e rever os conceitos, eu gostei) sem identidade própria, não é feliz, mas que aparenta ser, agrada a todos e pode fazer qualquer um feliz menos a si, que concorda só para agradar, que sorrir sem saber a causa. Que as Fridas atuais resgate e conquiste seus espaços e decidam seus destinos. Que sejam capazes de optar pelas suas relações e realizações pessoais e profissionais e que procure não ser uma Mona Lisa, cínica e hipócrita. Independente das escolhas, o que importa nessa vida é ser feliz. Toda beleza tem sua feiúra e toda feiúra tem sua beleza, dependendo do que faz sentido para cada um. Com ou sem pêlos a mulher só quer e precisa ser amada.
Margareth.

Rosangela Ataide disse...

Qual mulher não gostaria de ser desapegada ao mercado estético? Mas olha só: Não dá para levantar a bandeira do PSTU, sem estar depiladinha nas axilas, poxa! Ao menos um prestobarba, né?

Anônimo disse...

isso foi tétrico. tanto pelo que disse sobre a Frida quanto o que disse sobre o comunismo. [2]

Dani Lopes disse...

Postei teu texto [com créditos e link] em meu Blog. Podia?
A-mei!

Paulo Ednilson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Ednilson disse...

Amigo Fabrício, somos geração "X" contagiados pela geração "Y" pertencemos ao clã dos que não se contentam com um só olhar, que não se limitam a um só ângulo, é preciso, a priori, desconstruir para construir algo que mereça ser observado. A arte consiste nisso. E você é do nosso tempo (o tempo dos menos nécios) quem melhor faz isso. Reiteirados parabéns! Belo texto!
Paulo Ednilson