domingo, 21 de outubro de 2012

QUASE PERFEITO — Consultório sentimental de Carpinejar

ELE COMPROU MINHA IDEIA DE FIM
Arte de Fatturi
“Tenho 23 anos, e terminei um relacionamento há pouco tempo. Dei a ideia do término pra chamar a atenção, e ele comprou a ideia. Já faz um mês e nos falamos essa semana que passou, ficamos há um tempinho, mas não entendo: tem chance de voltar? Ou devo esquecer e partir pra outra? Beijo Clara”

Querida Clara,

Temos que contar com a liberdade de discutir, explodir, espernear, sem ninguém pressionando, sorteando ultimato e nos despejando.

O ideal é brigar em paz, desabafar com tranquilidade, quebrar os pratos para depois fazer as pazes e varrer a bagunça junto. A limpeza é a melhor terapia de casal: enquanto um varre, o outro segura a pazinha. Não há cena mais romântica.

Não recomendo blefar o término do relacionamento. Ameaçar não ajuda a resolver as diferenças, apenas cria a insegurança e paranoia em nossa companhia.

Quem diz que vai se separar sempre usará essa cartada em qualquer briga, entende? É uma chantagem que costuma retornar nos momentos tensos da discussão e agravar os ânimos.

Não minta. Não prepare as malas em vão. Não seja precipitada. Porque um dos efeitos colaterais é o namorado não aguentar o teatrinho e aceitar a ruptura.

Caiu em sua própria cilada, infelizmente.

Mas não deve se culpar, muito menos creditar o desenlace ao próprio ciúme e impulsividade. Ele comprou a ideia, pois estava interessado em se distanciar. Aproveitou a primeira promoção, a primeira liquidação dos problemas para cair fora. Foi oportunista e conveniente. Largou o relacionamento por cima, não precisou puxar o assunto e tomar a iniciativa.

Desconfie das declarações dele. Quem ama não abandona, não acaba o namoro fácil. Aquele que ama tenta de novo, volta, pede desculpa mesmo não tendo feito nada, arruma pretextos para conversar e insiste até virar um chato.

Deve esquecer e partir para outra?

Não, nem precisa se mexer, já está em outra.

ENTRE TAPAS E PUXÕES DE CABELO

Arte de Fatturi

“Conheci um cara em uma festa há um ano e meio. Começamos a sair e descobri que ele tem namorada. Ela sabe de mim, viu fotos minhas. Ele diz que não acha sua conduta correta, mas não termina o namoro. Nós nos falamos diariamente, mas só nos vemos esporadicamente. Quando ele me chama para sair, eu aceito. Tentei exclui-lo da minha vida, mas ele manda e-mail e voltamos a conversar como antes. Ele só me quer como amiga? Beijo Ieda”


Querida Ieda,

Você está boicotando todo novo relacionamento. Exerce uma perigosa fidelidade ao seu “amigo”.  Não se permite se apaixonar por qualquer nova pessoa, localiza defeitos imperdoáveis na largada, não aceita diminuir a lista de exigências do camarim.

É uma lealdade unilateral, ele tem namorada, aparece raramente e não se compromete com nada.  Você faz tudo para agradá-lo, inclusive não viver, desaparecer, apagar suas vontades e desejos.

Óbvio que a coisa não flui, você sabota as aproximações, restringe os sujeitos. Vidrada numa mensagem salvadora do além, despreza o mundo possível dos vivos.

É rigorosa com os demais e tolerante com seu parceiro. Basta ouvir o chamado que vai correndo ao encontro dele, não? Facilita recaídas.

Não acho que ele lhe enxerga como amiga, mas como amante. Tampouco tenciona mudar a natureza do convívio. Explora sua ingenuidade para se vangloriar.

Ainda não notou que oferece um espetáculo de graça, que foi recrutada para uma luta-livre.

Ele vem adorando suas manifestações de dependência. Sua presença gera ciúme na namorada e serve como barganha para abusar do poder. Tanto que ele fez questão de mostrar suas fotos e tornar a concorrência aberta.

O sonho do machista é assistir duas mulheres disputando o reinado do seu coração a tapas e puxões de cabelo.

Adotou o joguinho de vaidades do rapaz: quer mostrar que é mais fiel do que a namorada dele.

Não abandonaria séculos de avanço dos direitos das mulheres por um exibido.



Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 21/10/2012 Edição N° 17229
Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.

3 comentários:

Roseli Vaz disse...

Revolução das Amazonas

Tenho visto tantos amores unilaterais, e como sofremos, por vezes, mulheres lindas, inteligentes, mas dependentes de um homem que não quer se relacionar com ninguém mais além do espelho dele.
Vamos revolucionar mais um pouco!
Não aceite 1/2, 2/4, 1/6, pedaços de um homem, porque sozinha já estamos.
Não seja socialista partilhando seu amor com outras, muito menos se você é amiga/conhecida ou parente delas!
Não aceite ser amante desse homenzinho!
E, não aceite que ele tenha amantes.
E, acima de tudo, NUNCA brigue com outra mulher por ele! Se você está fazendo isso é porque ele não te respeita e nunca o fará.
Ouse, tem muita gente nesse pedacinho de terra, viaje, conheça outros, mundos, se necessário, mas deixe o namorado/marido/noivo/paquera da sua amiga em paz e coloque ele no lugar dele.
Essa revolução é só pra levar as mulheres, de volta, para nosso lugar, uma tríade, chamada respeito/reciprocidade e amor! Revolucione, e amanhã teremos homens valorizando as mulheres, naturalmente, e lutando pelo amor de uma delas.
Carpinejar, bom demais te ler, abre a mente e faz a gente exalar uma maturidade emocional!

Beso.

ana disse...

é incrível como o amor nos faz regredir ao estado emocional da infância quando éramos dependentes de amor e atenção. Embora nos faça sofrer, nos dá a sensaçāo gostosa de sermos especiais para alguém.

ganhar dinheiro disse...

parabens pelo belissimo blog, acompanho o mesmo desde 2010, recomendo a muitas pessoas. Parabens