Fiquei arrepiado ao ver a lista de itens pessoais do deputado federal paulista Rubens Paiva, preso pelo regime militar em 20 de janeiro de 1971.
Quando ele entrou nos porões da ditadura para ser interrogado, entre seus itens pessoais, além de relógio, lenço e cartão de banco, havia 14 livros de diversos autores.
Ele tinha a consciência de que iria morrer, mas levou 14 livros para ler.
Ele tinha a consciência de que nunca mais poderia olhar a luz do sol, mas levou 14 livros para ler.
Ele tinha a consciência de que seria torturado pelos agentes da repressão, mas levou 14 livros para ler.
Ele tinha a esperança de ainda ler 14 livros, apesar da sua morte iminente pelo DOI_CODI, apesar do seu desaparecimento certo dali para diante.
A esperança nada tem a ver com as circunstâncias. A esperança desafia as circunstâncias. A esperança é o nosso caráter.
Ele queria continuar aprendendo. E levou seus livros. Foi simples, foi verdadeiro. Com tempo ou sem tempo. Ele queria ler até o último de seus suspiros.
O que Rubens Paiva nos ensina?
Mesmo que tenhamos um só dia de vida, podemos amadurecer. Podemos melhorar. Podemos ampliar nosso conhecimento. Podemos nos superar.
Mesmo que tenhamos um só dia de existência, podemos plantar uma macieira, podemos amar melhor nossa mulher, podemos cuidar com capricho dos nossos filhos, podemos nos reconciliar com os pais.
Um dia é muito.
Um dia é nossa vontade de entender o mundo.
Um dia é nossa vontade de ser feliz.
Um dia são 14 livros.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (27/11) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:
11 comentários:
Ler um texto desses logo de manhã não tem preço! Excelente Carpinejar!
Simplesmente perfeito!
Um dia são as nossas leituras. Um dia é a vida (não a "que podia ter sido", mas a que é).
A leitura me ''salva'' da ignorância humana. Ainda bem !
- perfeito Fabrício!
Sei que são perguntas idiotas, talvez uma delas, até insensível, mas eu confesso que fiquei extremamente curioso para saber quais os títulos dos 14 livros que o Paiva levou, e se deu tempo dele ler alguns ou algum deles, ou um trecho, um paragrafo que seja. E por que justamente esses 14? Foram escolhidos aleatoriamente? Foram escolhidos, entre os livros ainda não lidos, ou os marcantes que foram lidos e mereciam uma releitura? Ou talvez foram separados antes, prevendo uma possível prisão, e quando os algozes chegaram apenas os apanhou tranquilamente?
que lindo!!
Muito motivador! Nunca é tarde para aprender, e aprendizado não tem limite.
Franco.
Minha solidariedade com a familia, com amigos e com o pais de Rubens Paiva.
Texto, chocante, pelas verdades gritantes, desse texto!!!!!!!
Os acentos, e companhia, sumiram, eh paiiis, Brasil!
parabens pelo belissimo blog, acompanho o mesmo desde 2010, recomendo a muitas pessoas. Parabens
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