quarta-feira, 31 de julho de 2013

AMAR DEMAIS É APENAS AMOR

Arte de  Eduardo Nasi

Amar demais não é crime. Amar demais não é doença. Amar demais não é pecado.

Amar demais não é um atentado. Amar demais não é desespero. Amar demais não é carência. Amar demais não é um abuso.

Amar demais não é uma violência. Amar demais não é um desequilíbrio.

Amar demais é amar. É estar amando um pouco mais do que ontem e um pouco mais do que hoje e um pouco mais porque a memória se espalha na imaginação e o desejo não tem cura.

Não existe amor demais, existe amor de menos, existe desamor.

Não existe amor demais, existe amor necessário, amor essencial, amor crescendo.

Não existe amor demais, existe amor e ponto. Amor com sua lógica incoerente, seu pulmão de coração, sua febre ansiosa.

Amar demais é amar sofrendo como todos que amam. É amar inseguro como todos que amam. É amar desconhecendo as fronteiras como todos que caminham com a boca.

Amar não tem régua de abraço, não tem bafômetro de beijo. Não há como dizer que um ama mais do que o outro, ou que um ama pelo outro.

Os amores se misturam quando se ama. Os amores não param de se transferir. Os amores não cessam de recomeçar.

O amor é uma saudade que não se contenta em chegar. É — ao mesmo tempo — o medo de não ser mais ninguém e a alegria de ser tudo.

O amor não é um gesto isolado, impreciso, parado. É um gesto contínuo.

Amor é velocidade. Não conheço jeito de fotografar o amor, e definir: — Este é o seu tamanho!

Amor é desobediência. Não conheço jeito de estancar o amor, e declarar: — Este é o seu limite!

Amar demais é amar correndo com o batimento. É jurar que o mundo vai terminar se o amor terminar. É querer morrer de tanto viver. É nascer brigando e dormir beijando.

É amor, e deu, não inventaram modo mais calmo, versão reduzida, plano controlado.

Amor é uma paz ensandecida, uma guerra calma, uma curiosidade insaciável.

Amar demais não deveria assustar. É como impor cor ao crepúsculo, intimidar a mancha luminosa da lua, censurar um pássaro no alvorecer, trancar o rebanho de estrelas no estábulo de uma nuvem.

Amar demais é querer mais do mesmo amor, é se fartar e sempre faltar, é encontrar procurando, é achar se perdendo, é abençoar amaldiçoando.

Amar demais não tem uma imagem tranquilizadora, um objetivo, uma linha de chegada.

Amar demais não tem controle, pedágio, fiscalização. É realmente assustador. É realmente terrível.

Amar é demonstrar e não se contentar, é repetir e ainda ser inédito, é se arrepender já em pensamento.

Amar é escolher e não se acomodar, é cumprimentar uma vez e jamais se despedir.

Não há amor errado, mas amor aprendendo.

Não há amor demais. É amar como nunca antes. É amar transbordando vento e virando caminho.

Amar demais é amar. Será doação, entrega, não se controla o que foi oferecido, não se cobra de volta.

Se alguém diz que você ama demais, peça uma carta de recomendação.






Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira

11 comentários:

Dani disse...

amar demais faz transbordar felicidade. e isso incomoda a quem ama de menos.

amemos demais.

am(é)m!

controvento-desinventora disse...

Meu amor é tanto, que não sei nem quanto...Amo amar. bj

Thiely Mariano disse...

Eu AM<3 demais...
só tenho que aprender a jogar fora o medo... e AM<3R ainda mais...

Unknown disse...

belo Blog! Seguindo.

Claudia Castelar disse...

Então eu mesma redigirei a 'tal carta de recomendação', em que pese não ter a quem endereçar ...

Anônimo disse...

Lendo esse belíssimo texto lembrei-me de Uma tal Maria escritora de um blog que se enquandra exatamente nele porque seus dizeres são sempre imersos e repletos desse amor que simplesmente existe somente enquanto ainda houver tempo para ela para respirar.

Abraços amorosos sempre!!
Paty.

Unknown disse...

amar o amar.
belo texto!
um beijo :D

Anônimo disse...

“Aos 17 anos todo mundo é poeta, junto com as espinhas da cara, todo mundo faz poesia. Homem, mulher, todo mundo tem seu caderninho lá dentro da gaveta e tem os seus versinhos que depois ele joga fora ou guarda como mera curiosidade. Ser poeta aos 17 anos é fácil, eu quero ver alguém continuar acreditando em poesia aos 22 anos, aos 25 anos, aos 28 anos, aos 32 anos, aos 35 anos, aos 40 anos, eu estou com 41, aos 45 anos, aos 50, aos 60 anos, até você encontrar um poeta, por exemplo, como Drummond ou como o admirável Mário Quintana que são poetas que estão fazendo poesia há mais de 60 anos e há mais de 60 anos que a poesia é o assunto deles. Então eu acho que 90%, mais! 99% dos poetas que estão fazendo poesia hoje, daqui a dez anos eles vão estar fazendo outra coisa, porque vem a vida, vem os filhos, vem preocupações com dinheiro, vem as ambições do consumo, vem a necessidade de comprar isso, comprar aquilo, de adquirir uma casa na praia e tal, e tudo começa a se tornar mais importante do que a poesia. A poesia é uma espécie de heroísmo, você continua ao longo dos anos acreditando nessa coisa inútil que é a pura beleza da linguagem, que é a poesia é um heroísmo, é uma modalidade quase, às vezes eu gostaria de acreditar, de santidade. É uma espécie de santidade da linguagem. Porque a poesia não vai te fazer rico de jeito nenhum, é muito mais fácil você abrir uma banquinha e vender banana do que fazer poesia. Quer dizer, para você continuar acreditando em poesia é preciso muita santidade.”


Paulo Leminski em “Ervilha da Fantasia"

Um beijo de uma capilé que te admira muito, Fabrício-Poeta-Carpinejar.

Mônica Mello disse...

Amar demais ainda é amar pouco, poeta. Amar demais ainda é pouco. Suas palavras e sentimentos não me causam espanto: me provocam admiração! (Surpresa eu fico quando me deparo com gente tacanha sobrevivendo graças a sua incapacidade de sentir.) Eu sinto muito. Sempre. E não me arrependo.

Unknown disse...

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Anônimo disse...

Amo tanto que não sei o tamanho...Sou só sentimentos, me quebro todo por dentro, tudo muito intenso, é amar sem cessar.