Arte de Villemard
Tenho um péssimo costume de falar ao telefone quando estou sendo atendido no comércio.
Entro na fila já conversando no celular. Tagarelando. Todo mundo ouvindo minha indiscrição.
No momento em que chego na boca do caixa, não desligo.
Continuo falando para azar do atendente.
O funcionário me pergunta: Crédito ou débito?
E faço mímica.
O funcionário me pergunta: CPF na nota?
E mexo a cabeça.
O funcionário me pergunta se quero sacola.
E estico as sobrancelhas.
Coitado do funcionário. Desligue o celular quando é atendido.
No táxi, é mais grave e irritante. Vou no trololó no fone enquanto o motorista espera o caminho e o destino.
É aquela angústia de andar às cegas com o passageiro gritando de repente: esquerda, direita, direita, aqui, mais adiante.
Manter alguém aguardando porque está no celular é falta de educação e de respeito. É como falar e mastigar ao mesmo tempo.
Ouça meu comentário na manhã de sexta-feira (27/6) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:
Um comentário:
O desafio para a geração atual é ser mais interessante pras pessoas que seus Smartphones, alguém falou... Nas rodas de conversa, as conversas perderam o sentido. Nas saídas com os amigos, a saída perdeu o sentido. Nas viagens, a viagem perdeu o sentido, na hora das refeições e por aí vai. Se eu esqueço o celular, tenho que voltar pra casa, me atrasar pra aula, perder o ônibus, suar mais devido a caminhada no sol e pra quê? Pra não ficar "desconectada" das pessoas. Olha só a contradição. A mesma tecnologia que me pluga aos demais, me desliga totalmente deles e me faz menos sensível pra perceber suas angústias, pois eu os enxergo pela foto do perfil e nesta, a tristeza nem passa perto. No virtual, todo mundo é metido a feliz. Depois a gente vê casos de suicídio e se pergunta mais por quê? Ela era tão feliz e cheia de vida (no face)... Fazia tantas viagens, tinha tantos amigos (e eu cheguei a acreditar mesmo nessas mentiras). A tecnologia, que nos é posta a cargo pra diminuir as distâncias que existem entre nós e nosso "próximo" é a mesma que nos faz voltar para nossos mundos particulares, todos os dias, cheios de vazios existenciais, nosso e dos outros...
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