terça-feira, 29 de agosto de 2017

Arte: Eduardo Nasi

Eu tenho um truque para identificar o fofoqueiro: deixar o cadarço desamarrado.

É capaz de apressar o passo e até correr para lhe alcançar, não desperdiçará a chance da censura pública. Tocará em seu braço ou gritará um “ei” de feirante. Apontará com ares professorais.

– Seu cadarço está solto! Você vai cair.

Ele não resiste a uma aparência desalinhada. Já puxa assunto. Não pense que ele deseja lhe salvar, só quer mostrar o quanto você é descuidado. Não é uma gentileza, mas uma repreensão. Destaca a sua inaptidão para a vida prática.

Quem olha o cadarço do outro repara em qualquer coisa em seu semelhante. É movido pela curiosidade, não aguenta ficar calado, torna-se um radar dos acidentes e desvios nas proximidades.

Será aquele motorista que produz engarrafamento somente pelo prazer de observar o estrago entre veículos no outro lado da faixa. Será aquele visitante que vai tirar a manta do sofá para ver se ele está rasgado. Será aquele que passará o dia inteiro mandando vídeos e imagens engraçadas nos grupos do WhatsApp. Será aquele que não respeita o seu fone de ouvido e seguirá falando. Será aquele que ajeitará o quadro em sala de recepção médica. Será aquele que começa um assunto com a manchete sensacionalista: “não sabe o que aconteceu”. Será aquele que comentará sobre a sua gola virada ou etiqueta para fora numa festa.

A incontinência verbal é uma consequência. Pois não acredita em recarga de celular, é uma pessoa claramente pós-paga.

O fofoqueiro é um chato da cabeça aos pés. Está tão preocupado em socorrer a humanidade que não tem tempo para cuidar de si.

Publicado em Vida Breve em 10/05/17

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