Sou apaixonado por mistérios como um cachorro pela rodas de carro.
Passeando pelo mercado de Belém, encontrei a verdadeira farmácia popular. Frascos e frascos encordoados para a venda. Garrafadas para derrame, hipertensão, inflamação, diabetes. Adoecia com vontade de testá-las na hora. Um sem-fim de chás curativos, poções miraculosas, receitas infalíveis.
A vendedora lembrava uma cigana.
— Vem aqui, meu bem!
Eu fui, convicto de que ouvir não compromete. Mas compromete, sim.
— Está com problema de conseguir mulher?
— Não, está me achando feio?
— Não, meu bem, a beleza do homem está no cheiro.
— Tô cheirando mal?
— Para de frescura, meu bem…
— O que deseja?
— Dar desejo, meu bem.
— Pode explicar…
— Tenho aqui o perfume do boto. Quer? É um afrodisíaco, nenhuma madame vai resistir.
Comprei para calar sua boca. Até porque meu bem é sempre usado por aquela que deseja o mal. Ela ainda se despediu:
— Meu bem, depois volte para me contar suas aventuras.
Eu não me vi poderoso, mas profundamente idiota, com três potinhos no bolso do jeans, três por R$ 10, um monte de preservativo líquido.
Apressei o passo ao hotel. As ruas estreitas retardavam o raciocínio, notei que atraía atenção como numa micareta. O mulherio controlava minha cintura, mostrava a língua com malícia, lambia o ar, contornando camadas de um sorvete imaginário.
Será que fez efeito antes de usar? Era o volume da calça, o boto já me enfeitiçava, já me tornava superdotado. Meus braços estavam mais leves, coreografados, as coxas socando o tecido.
Analisei o vidrinho: o lago laranja, dentro pendia algo como um camarão. Cheirei, veio uma nuvem de formol e batata frita. Será que as moças gostam disso? De fritada de múmia?
Descrevi a aquisição ao amigo Mauro. Ele largou uma gaitada:
— O óleo é pai d’égua! Feito da genitália do boto.
Mesmo? Como os homens podem se untar com o pau do boto e arrebatar fêmeas? O efeito não é o contrário: não é para chamar gays?
Não irei espalhar pau do boto em meu corpo, nunca. É a própria decadência. Depois ficarei exigente e não terei mais volta: pedirei porra de baleia e pentelhos de tubarão. Não posso ousar. Será triste se colocar uma vez e a namorada adorar e comentar que está comigo pela química.
— Amo seu cheiro, qual o perfume?
O que responder? Que é o Chanel do Norte?
A fragrância exótica prepara o macho para ser um corno manso. A dar sua vida ao boto. A baixar a cabeça e trocar a virilidade da pele ao cheiro de outro saco.
Não aguentarei se engravidar minha mulher. Pensarei eternamente que a criança é filha do boto.
Passeando pelo mercado de Belém, encontrei a verdadeira farmácia popular. Frascos e frascos encordoados para a venda. Garrafadas para derrame, hipertensão, inflamação, diabetes. Adoecia com vontade de testá-las na hora. Um sem-fim de chás curativos, poções miraculosas, receitas infalíveis.
A vendedora lembrava uma cigana.
— Vem aqui, meu bem!
Eu fui, convicto de que ouvir não compromete. Mas compromete, sim.
— Está com problema de conseguir mulher?
— Não, está me achando feio?
— Não, meu bem, a beleza do homem está no cheiro.
— Tô cheirando mal?
— Para de frescura, meu bem…
— O que deseja?
— Dar desejo, meu bem.
— Pode explicar…
— Tenho aqui o perfume do boto. Quer? É um afrodisíaco, nenhuma madame vai resistir.
Comprei para calar sua boca. Até porque meu bem é sempre usado por aquela que deseja o mal. Ela ainda se despediu:
— Meu bem, depois volte para me contar suas aventuras.
Eu não me vi poderoso, mas profundamente idiota, com três potinhos no bolso do jeans, três por R$ 10, um monte de preservativo líquido.
Apressei o passo ao hotel. As ruas estreitas retardavam o raciocínio, notei que atraía atenção como numa micareta. O mulherio controlava minha cintura, mostrava a língua com malícia, lambia o ar, contornando camadas de um sorvete imaginário.
Será que fez efeito antes de usar? Era o volume da calça, o boto já me enfeitiçava, já me tornava superdotado. Meus braços estavam mais leves, coreografados, as coxas socando o tecido.
Analisei o vidrinho: o lago laranja, dentro pendia algo como um camarão. Cheirei, veio uma nuvem de formol e batata frita. Será que as moças gostam disso? De fritada de múmia?
Descrevi a aquisição ao amigo Mauro. Ele largou uma gaitada:
— O óleo é pai d’égua! Feito da genitália do boto.
Mesmo? Como os homens podem se untar com o pau do boto e arrebatar fêmeas? O efeito não é o contrário: não é para chamar gays?
Não irei espalhar pau do boto em meu corpo, nunca. É a própria decadência. Depois ficarei exigente e não terei mais volta: pedirei porra de baleia e pentelhos de tubarão. Não posso ousar. Será triste se colocar uma vez e a namorada adorar e comentar que está comigo pela química.
— Amo seu cheiro, qual o perfume?
O que responder? Que é o Chanel do Norte?
A fragrância exótica prepara o macho para ser um corno manso. A dar sua vida ao boto. A baixar a cabeça e trocar a virilidade da pele ao cheiro de outro saco.
Não aguentarei se engravidar minha mulher. Pensarei eternamente que a criança é filha do boto.
Crônica publicada no site Vida Breve
26 comentários:
Já pensou:
todas as noites
(no mês de junho)
faria teu filho
botinhos
nas meninas
dos calçadões.
Genial.
Forte abraço,
camarada.
presenciei o efeito do óleo do boto!
a paixão se espalhou como se o óleo estivesse na refrigeração do ar-condicionado. principalmente, naqueles q não conheciam teu trabalho...
mas, querido carpinejar, você não precisa de tais recursos de nossa flaura e flora...
a inteligência é mais fascinante, aguça mais os sentidos ;]
Você foi na barraca da Beth Cheirosinha no Ver-o-peso?? hahaha
Diga a sua namorada que é o Chanel nº 10. rs
Eu comprei o Pega Homem. Não usarei, o cheiro é pessimo.
beijos
Quem sabe o homem não descubra assim a parte de boto que lhe compõe.
Adorei.
Concordo plenamente com K a amiguinha daí de cima: inteligência é uma SUPERBONDER que atrai,liga, cola e adere definitivamente!!!
És um BEM para todos, sem que precisemos utilizá-lo para o MAL.
Um abraço, sem perfume!!!!
Fabro, postei no twitter, mas não resisti e tenho que deixar aqui também: Cheiro de pau de boto foi demais! Que orgia é o Norte do País!huashuashuas Beijos
Muito bom hehehe
Gostei da parte em que perguntas se a dona está te achando feio, certas estratégias de venda nos atiram à baixo-estima, quando não acabam por nos (con)vencer a comprar pelo cansaço.
O Boto realmente tem fama, mas sinceramente não sei se sairia com um cara se soubesse que ele usa um troço desses, me passaria a impressão de que não se garante... rs
Ilário como sempre, fantástico como nunca!
Sempre tento aos detalhes, neh!?
Grande abraço!
^^
atento*
=p
kkkk, q ótimo td isso Fabro! rsrs, Chanel do Norte é tudoooo, hahahaa, bjos
Muito bom!
Conheci-o há pouco... encantada!
Abraços carinhosos =)
O NENÊ DO PEIXE-BOI
by Ramiro Conceição
Quando o nenê
do peixe-boi nasce,
a mãe,
a peixe-mulher,
o leva à superfície
para respirar…
E depois desce.
No silêncio,
por sete dias
sem descanso,
pois não é Deus,
a mãe vê o seu nenê
aprender a sua parte.
Ora,
não faz a mesma coisa a arte
com seu nenê - de 30000 anos?
PS: felicidades, Poeta!
Genial a sua crônica!
Risadas à madrugada!
Show!
Adorei...
Grande abraço!
Melhor que isso só a banha do peixe-boi da amazônia...kkk
Se puder(em), visite(m) lá:
http://www.iantonini.blogspot.com
Pra precisar matar um boto e usar um perfume de sua genitália, a coisa deve estar feia mesmo...
Ainda prefiro acreditar no sorriso :)
Fantástico. Nunca ouvir falar de ser mais viril que o boto. e dali boto nelas!
Ah! quero botar...o verbo deve ter dado origem ao boto...bota amor...bota tudo!..a bota também tem esse fetiche, quanto mais longa mais sedutora...Carpinejar também é um verbo...ele bota um monte de coisas nas nossas cabeças..ahaha! muito bom esse cara...
Pau do boto? Parece coisa de bestialismo. Depois o que fazer? Assistir filmes lésbicos com andorinhas? Bondage entre jaguatiricas? Gang bang de pirarucus? Foi bom vc não entrar nessa. Sexo animal não quer dizer isso...rsrs
ps: e olha que sou paraense!
Dos melhores textos teus que já li. Muuuito bom mesmo! Onde ficam essas barracas? Já estive em Belém e não vi.
- "meu bem é sempre usado por aquela que deseja o mal."
Primeiro, devo elogiar, que delícia de crônica!!
rsrsr
Depois resta-me rir muito e lembrar de cada detalhe pra ser vendido o "pau do boto"
Abraços
Encontrei teu blog ontem. Genial!
Nada melhor que ir pra cama bem humorada. Saudacoes geladas de outro hemisferio!!!
Tânia Linda
Pois adoro mistérios, e não é que acabei casando com um boto. A diferença é que cheira muito bem,e
sempre vou ter orgulho de dizer meus filhos são filhos do Boto!
Há!há! adorei tua crônica as o apelido do meu marido é Boto! Abraços sou tua fã.
Parabéns !!!!! Adorei a crônica !!!!!
Hiper criativa !!!!!
Mas que funciona.....funciona ...!!!!
Ameeeei kkkkkkk
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