O Ministério Público Federal está processando o dicionário Houaiss em funcão dos termos pejorativos da palavra cigano. A ação tramita em Uberlândia (MG) contra a Editora Objetiva. Estão confundindo politicamente correto com censura.
Drummond, com seu poema "A Bunda", pode ser a próxima vítima.
A BUNDA, QUE ENGRAÇADA
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por
sina cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda.
Ouça todo meu comentário da manhã de sábado (3/3) na Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje:
6 comentários:
Parece que falta o que fazer para esse povo, meu Deus...
Os termos discriminatórios imputados ao povo cigano não tem qualquer semelhança em relação à bunda. Bunda é bunda, desde que não seja a minha ou a sua bunda. Cigano é uma nação, uma cultura, uma história nos quais são envolvidos sentimentos. Não devemos fomentar o ódio e desprezo às minorias étnicas. Desculpe, mas sua comparação foi infeliz. Um grande abraço de Alaor.
Pelo contrário amigo Alaor,em momento algum vi na publicação algum tipo de comparação.Onde nele foi mto bem explicado , no texto de Dumont," póde ser próxima vítima". A única relação que percebo é a volta da censura em manifestar a escrita.
Eu adorava um professor meu que ensinava uma matéria muito chata e com músicas, bom humor, ele fazia a gente aprender, e às vezes tinha palavrão para finalizar a musiquinha-decoreba, e isso fazia a gente rir, e achava muito interessante quando ele dizia que palavrão é só uma palavra, pq não devemos dizer isso ou aquilo, e refletindo, realmente, em um momento de exclamação, por exemplo, só cabe um palavrão, e ele não está para ofender ninguém. Concluindo o tom de discriminação quem dá é a pessoa que fala e no tom que fala..me parece que o dicionário descreve um estereótipo sendo um dos significados e não todos, e não tão somente..., e não significa que a pessoa seja o estereótipo, e essa não deve ser a única palavra no dicionário..., e o que vai na cabeça da pessoa também é que a faz ofendida..se houvesse discernimento sobrando talvez não houvesse nem ofensa e nem ofendido...
Alaor: como disse Manu aí acima, não creio que houve comparação direta. Mas apenas apontou-se uma tendência do discurso politicamente correto para se tornar cada vez mais insustentável. Censurar um dicionário por fazer o que deve (recolher e apresentar os significados mais comuns de uma determinada palavra em uma determinada língua) é um pouco demais. Seria como julgar preconceituoso o sociólogo que afirma que os negros sofrem preconceito no Brasil por afirmar que os negros sofrem preconceito. O grau de suicídio argumentativo desse discurso pode ser exemplificado por este texto aqui: http://www.cartacapital.com.br/politica/o-perfeito-imbecil-politicamente-incorreto/, que foi ovacionado pelos politicamente corretos de plantão que sequer notaram que "imbecil" era uma categoria psiquiátrica e que no título do texto a autora agiu discriminando os que foram assim diagnosticados... Enfim: o discurso politicamente correto contribuiu imensamente para que tivéssemos um auto-policiamento maior e refletíssemos antes de falar coisas que podiam ofender os outros. Mas, como tudo na vida, tem limites e não é a panaceia universal.
Excelente o texto de Eliane Brum na Época:
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/03/senhor-procurador-leia-o-verbete-dicionario.html
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