quinta-feira, 25 de abril de 2013

BEM-VINDO, MEU AMOR



Bem-vindo, meu amor, nosso soluço não é mais do choro, agora é do riso, pelo excesso de alegria.

Deixe para trás os ossos dos homens que não souberam lhe amar. Os ossos não têm olhos.

Deixe as despedidas ingratas, a avareza dos outros.

Deixe o que não traz mais lembrança; mentiras jamais acalmam.

Não seremos prisioneiros da culpa e do remorso, não seremos reféns das incertezas.

Incertezas envelhecem, as dúvidas não.

Você cria mistérios, sou mais vivo porque me questiona, sou mais seu porque não para de me perguntar o que aconteceu.

Venha engolir vento comigo, inspirar o primeiro ar da manhã da estrada, lavar as mãos no solzinho tímido.

Vem comigo, amor, cheira meu pescoço. É cheirando meu pescoço que descobrirá se falo a verdade. O cheiro é minha confidência. Meu cheiro tem o seu cheiro. Transpiro o que leio em sua pele.

Amar só traz simplicidade.

Amar só traz humildade.

Amar antes só me trouxe para perto.

Para aqueles que pensam que caso e me separo com facilidade, você será minha contradição, a insistência da virtude, a volúpia dos sapatos.

E vamos rir de soluçar. Pois ninguém acreditou na gente, a não ser a gente. Temos a vantagem da intuição, amor.

Você dormiu colada em meu corpo desde o início. E não pedimos trégua, água, tempo.

Sua respiração me assobia, me canta, me compõe.

Você não escondeu nada de mim.

Você conversa comigo como se eu fosse seu próprio pensamento.

Você já fez minha barba para sentir o quanto custa ferir meu rosto.

Eu já penteei seus cabelos para sentir o quanto um nó puxa a cabeça para baixo.

Bem-vindo, amor, nosso passado é o nosso futuro.

Você escolhe a roupa na última meia hora de sono. Eu me visto de suas escolhas pelo resto do dia.

Bem-vindo, amor.

Brigaremos no supermercado para definir nossa janta. Faremos festa ao descobrir um pequeno aumento no salário. Puxaremos assunto com os garçons. Receberemos elogios de estranhos comovidos com nosso abraço e inveja dos casais mais antigos. Tocaremos os pés na madrugada e ficaremos com vontade de acordar. Encostaremos os braços nos filmes e ficaremos com vontade de dormir. Jamais trocaremos de lado na cama. Dividiremos o jornal de domingo. Gostaremos das mesmas coisas das vitrines. Seu número em meu telefone constará como um segundo nome. Seus anéis estarão dentro de meus livros. Minhas mãos estarão dentro de suas mãos.

Bem-vindo, amor.

Felicidade não é para ser vivida sozinha. Sozinha, ainda é segredo.

A felicidade é uma denúncia. Vou denunciá-la com um beijo.

Denunciá-la para minha eternidade.



Minha coluna na Revista IstoÉ Gente
São Paulo, abril de 2013, p. 80, Edição Nº 696

10 comentários:

Bela Campoi disse...

Tive um suspiro longo aqui: que lindo é o amor...

Natan Nei disse...

Uma sábia amiga minha me recomendeu a leitura de tuas palavras assim que eu a escrevi um texto também.

E realmente, sou mais um seguidor dos seus pensamentos.

Muito bom!

Abraços

Unknown disse...

Ai, que lindo! Estou ainda mais apaixonada.

Anônimo disse...

Profundamente tocante

Unknown disse...

Que coisa mais linda, fico sempre sem palavras diante desses textos, só posso suspirar apaixonada agora também.

! disse...

O amor quase sempre transborda gentileza quando chega!

E na mais vã das lutas você é meu herói.

Roseli Vaz disse...

Bem-vinda, eternidade!

Janaina disse...

Lindo! Sem mais...

Ana Sophia disse...

Simplesmente perfeito! Amei!! Lindo demaissss..

Anônimo disse...

Este texto mudou a minha vida. Te amo, Fabrício. Obrigada