domingo, 26 de maio de 2013

ESSE CARA NÃO SOU EU

Arte de Fraga

Sou eu e ela aproveitando os 10 minutos de tolerância do despertador para ficar ainda mais abraçados.

Sou eu e ela brindando com xícaras de café.

Sou eu e ela dividindo o espelho na hora de escovar os dentes.

Sou eu e ela perguntando se está frio ou quente na rua para escolher as roupas.

Sou eu e ela fazendo planos para o final de semana em plena segunda-feira.

Sou eu e ela de mãos dadas no cinema até formigar os braços.

Sou eu e ela criticando a cafonice de alguém na rua.

Sou eu e ela no banco da praça tomando chimarrão e jogando pipoca aos pássaros.

Sou eu e ela trocando cumprimentos de pernas debaixo da mesa.

Sou eu e ela se beijando devagar para respirar melhor dentro do beijo.

Sou eu e ela guardando as rolhas de nossos vinhos.

Sou eu e ela escondendo surpresas no armário da cozinha.

Sou eu e ela ouvindo os problemas sem jamais dizer que não é nada (é horrível ouvir que não é nada quando se sofre).

Sou eu e ela relatando as confusões do trabalho, e exagerando para soar engraçado.

Sou eu e ela disputando quem acessa primeiro a web.

Sou eu e ela arrumando a casa depois de festa.

Sou eu e ela colocando ao mesmo tempo nossas fotos no Facebook.

Sou eu e ela dançando com a cabeça voltada ao teto.

Sou eu e ela lendo o mesmo livro, um esperando o outro terminar o parágrafo para virar a página.

Sou eu e ela adivinhando o que significa certas palavras antes de consultar o dicionário.

Sou eu e ela em silêncio barulhento quando nos emocionamos com uma história.

Sou eu e ela mordendo os lábios no momento da excitação.

Sou eu e ela dividindo os moletons mais gastos.

Sou eu e ela atendendo ligações de madrugada dos amigos em fossa.

Sou eu e ela dando desculpas furadas para não sair no frio.

Sou eu e ela pedindo: por favor, coce minhas costas.

Sou eu e ela passando a roupa um pouquinho antes da festa.

Sou eu e ela atentos quando um dos dois levanta no meio da noite.

Sou eu e ela encardindo as meias pelos corredores do prédio.

Sou eu e ela confessando ciúmes com humor.

Sou eu e ela guardando as caixas de sapatos e as embalagens dos presentes.

Sou eu e ela mudando de canal sem parar sempre alegando que nunca tem programa bom.

Sou eu e ela conferindo se fechamos a porta.

Não sou o cara, mas melhor do que isso: sou um casal.


 
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 26/05/2013 Edição N° 17444

8 comentários:

Menina Marota disse...

Um casal apaixonado...
Lindo! eheheh :-)

Clara Lúcia disse...

Que perfeito!
Esse é o cara. O homem repleto de defeitos que se encaixam perfeitamente nos defeitos da gente!

Roseli Vaz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roseli Vaz disse...

A pessoa certa traz movimento para nossa vida, coisas começam a se reorganizar, sem esforço. Aí, alguns homens não conseguem enxergar que é a energia do amor do casal, e estufam o peito e vão em busca de outras pessoas. E, aquela mulher que lhe faz bem se decepciona porque ele não vê além dos olhos do orgulho próprio. E tudo se acaba. Quando o amor é real, tem uma energia enorme, mas lembre-se é o casal. Atrai coisas boas, mas, também inveja da parte de pessoas incompletas. Que bom que aquele cara não é você, Carpinejar! É mais forte ser vocês!

Maria Flores disse...

Não sou o cara, mas melhor do que isso: sou um casal. Perfeito!!

Maria Flores disse...

Não sou o cara, mas melhor do que isso: sou um casal. Perfeito!!

Unknown disse...

Lindo, emocionante, profundo, reflexivo... como sempre, seus textos são irradiantes!!!

Helen A.Z disse...

Tão lindo...