quarta-feira, 18 de junho de 2014

O MELHOR EMPREGO PARA TRAIR

Arte de Eduardo Nasi

Não é plantonista de hospital, não é mafioso, não é motorista de caminhão. Encontrei qual a melhor ocupação para exercer a infidelidade. A melhor de longe.

Não sofrerá nenhuma ameaça de fim de casamento, não será pego em flagrante, muito menos incriminado por vizinhos e denunciado por fofoqueiros. Traz segurança total para as puladas de cerca elétrica.

O trabalho dos sonhos dos adúlteros é o Serviço de Proteção às Testemunhas.

Não precisa dizer nunca onde estava para sua esposa, é somente responder:

— Desculpa, amor, são informações secretas e privilegiadas. Não pretendo colocar a vida de nossa família em risco.

Não precisa se contradizer na mentira e pecar pelo excesso de detalhes, maior trauma masculino.

Não precisa atravessar madrugadas com discussões de relação e acareações com os amigos.

Não precisa ir ao banheiro sempre com o celular.

Não precisa contar como foi seu dia e interromper os programas prediletos de televisão.

Não precisa inventar horas extras e jantares de negócios.

Não precisa se concentrar em decorar suas próprias versões.

Não precisa esconder notas e bilhetes, eliminar conversas pornográficas inbox,  apagar mensagens no whatsapps e SMS.

Não precisa trocar senhas desesperadamente.

Não precisa dormir de olhos abertos.

Não precisa confessar seu nome verdadeiro à amante, já que ostenta uma identidade falsa para preservar sua segurança. O codinome também afastará todos os embaraços virtuais. As outras não terão acesso ao seu Facebook, não saberão o status de seu relacionamento. Manterá a pose de solteiro e descomprometido.

Não precisa forjar trajetos e necessidades para falar ao telefone (como ir ao mercado, levar o cachorro para passear, comprar cigarros). Tem a liberdade de sussurrar dentro do quarto, na cara de sua esposa, sem ter que explicar quem era.

Pode sair a qualquer hora da noite ou retornar tarde, sob a alegação de que cumpria uma missão especial.

Pode desaparecer durante dias seguidos, justificando que houve mudança de planos.

Pode voltar para casa com perfume feminino no casaco, e explicar que era um disfarce.

Pode até mudar de sexo e jamais ser descoberto.





Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
18/6/2014

3 comentários:

Maria Teresa Valente disse...

Fabrício Carpinejar, eu me divirto com suas postagens e de quebra aprendo muito, você tem uma sensibilidade extraordinária e não tem medo de se expor, como também não tem medo de dedar os segredos do universo masculino. Poderia dizer, até, que você não existe, mas você é real e é demais. Parabéns, que seja sempre muito abençoado, abraços
Maria Teresa

["/]jeaninedemoraes["/] disse...

Mas que CANALHA inteligente! ;)Grande abraço, Jeanine

Lúcia Alves disse...

boaa adorei