Arte de Eduardo Nasi
Não é plantonista de hospital, não é mafioso, não é motorista de caminhão. Encontrei qual a melhor ocupação para exercer a infidelidade. A melhor de longe.
Não sofrerá nenhuma ameaça de fim de casamento, não será pego em flagrante, muito menos incriminado por vizinhos e denunciado por fofoqueiros. Traz segurança total para as puladas de cerca elétrica.
O trabalho dos sonhos dos adúlteros é o Serviço de Proteção às Testemunhas.
Não precisa dizer nunca onde estava para sua esposa, é somente responder:
— Desculpa, amor, são informações secretas e privilegiadas. Não pretendo colocar a vida de nossa família em risco.
Não precisa se contradizer na mentira e pecar pelo excesso de detalhes, maior trauma masculino.
Não precisa atravessar madrugadas com discussões de relação e acareações com os amigos.
Não precisa ir ao banheiro sempre com o celular.
Não precisa contar como foi seu dia e interromper os programas prediletos de televisão.
Não precisa inventar horas extras e jantares de negócios.
Não precisa se concentrar em decorar suas próprias versões.
Não precisa esconder notas e bilhetes, eliminar conversas pornográficas inbox, apagar mensagens no whatsapps e SMS.
Não precisa trocar senhas desesperadamente.
Não precisa dormir de olhos abertos.
Não precisa confessar seu nome verdadeiro à amante, já que ostenta uma identidade falsa para preservar sua segurança. O codinome também afastará todos os embaraços virtuais. As outras não terão acesso ao seu Facebook, não saberão o status de seu relacionamento. Manterá a pose de solteiro e descomprometido.
Não precisa forjar trajetos e necessidades para falar ao telefone (como ir ao mercado, levar o cachorro para passear, comprar cigarros). Tem a liberdade de sussurrar dentro do quarto, na cara de sua esposa, sem ter que explicar quem era.
Pode sair a qualquer hora da noite ou retornar tarde, sob a alegação de que cumpria uma missão especial.
Pode desaparecer durante dias seguidos, justificando que houve mudança de planos.
Pode voltar para casa com perfume feminino no casaco, e explicar que era um disfarce.
Pode até mudar de sexo e jamais ser descoberto.
Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
18/6/2014
3 comentários:
Fabrício Carpinejar, eu me divirto com suas postagens e de quebra aprendo muito, você tem uma sensibilidade extraordinária e não tem medo de se expor, como também não tem medo de dedar os segredos do universo masculino. Poderia dizer, até, que você não existe, mas você é real e é demais. Parabéns, que seja sempre muito abençoado, abraços
Maria Teresa
Mas que CANALHA inteligente! ;)Grande abraço, Jeanine
boaa adorei
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