A mulher discute para se explicar, discute para se organizar.
Abre suas vacilações e temores para dividi-los. Não procura obter ajuda de ninguém, conselho de ninguém, apoio de ninguém.
Está pensando alto, repartindo suas inquietações.
Às vezes a briga é só uma sessão de gritos, de agudos, de lamentos.
Mas o homem não tem paciência. Sua vaidade é maior do que sua paciência.
Diante da mínima conversa séria, já leva para o lado pessoal, já se sente acusado, já se põe ameaçado e cobrado. Nem escuta até o fim e se defende.
Identifica-se como culpado de algo que ainda não sabe o que é e não pagará para ver. Seu anseio imediato é revidar e se proteger. Se não vira as costas de verdade, vira as costas dos ouvidos.
Carente, o homem se posiciona como o centro do mundo, sempre no papel de protagonista. Sofre de antropocentrismo amoroso. Jura que tudo o envolve e que a mulher não tem outros anseios, outras preocupações, outras necessidades que não ele.
Se ela está insatisfeita, entende que é problema dele. Se ela está deprimida, entende que é problema dele. Se ela está chateada, entende que é problema dele.
Jamais raciocina que ela pode estar falando apenas de seus problemas e que não é uma indireta, direta, cilada, armação, ironia, sarcasmo.
Esta é a grande diferença: a mulher pretende ser ouvida (e se ouvir acompanhada), descarregar a tensão, espantar as aflições, e o homem se vê atingido pelo desabafo e se coloca como o provedor de todas as dificuldades do mundo.
Durante a discussão de relacionamento, a mulher senta no divã enquanto o homem se acomoda no tribunal.
O homem quer resolver logo a questão, a mulher quer problematizar para definir a melhor escolha.
O homem acha que está perdendo tempo com divagações; a mulher acredita que ganha tempo analisando diferentes perspectivas.
Como se percebe atacado, o homem não acolhe a catarse com a alegria da cumplicidade, não recebe a confissão com o entusiasmo da confiança. É um péssimo espelho: atalha, conclui antes da hora, resume. Irrita a mulher com sua pressa e sua ânsia de sair logo daquela cena.
Tem resistência em exercitar hipóteses, possibilidades remotas, vidas imaginárias.
Qualquer dúvida que vem de sua mulher é sinal de infelicidade. Qualquer crise que vem de sua mulher é sinal de fraqueza e covardia.
Ele somente se acalma com certezas. Porém, as certezas não existem. Nunca existiram.
Publicado na Revista Isto É Gente
Julho de 2014 p.46
Ano 14 Número 710
Colunista
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