segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

LIBERDADE SEXUAL

No sexo, podemos ser qualquer um, sem pegar cadeia por falsa identidade. Podemos mudar a cor do cabelo, podemos usar roupas fetichistas, podemos simular dominação ou submissão, contrariar traumas, zombar das terapias, demonstrar imaturidade, dispensar a razão e o equilíbrio, esquecer condicionamentos e o CPF, descrever o que nem entendemos, puxar histórias sem pé nem cabeça, encarnar segredos que jamais serão confirmados publicamente.

O sexo é invenção de si mesmo. Um jogo de aparências. Nada será julgado, abre-se ao teatro de graça, um exorcismo dos medos, onde a palavra comanda o gemido. Não é para ter pudor de falar. Não é para se envergonhar de se expor. Não é para sofrer censuras e julgamento.

Sexo é libertação. Não há pose proibida, pedido exagerado, súplica estranha.

Os desejos também estão nus. Não é para se controlar, temer represálias. O que acontece no quarto morre nos lençóis.

O ridículo é essencial, a cumplicidade abole os preconceitos. Alguns se vestem de bombeiro, outros de enfermeiros, existe gente que brinca de polícia-ladrão. Não é para se levar a sério, os instintos brincam com as suas possibilidades.

O sexo é uma feira de profissões, um baile à fantasia. Quando podemos fingir algo para se descobrir diferente e ter saudade depois do que realmente somos.

O sexo é a chance de ser pela metade, aos poucos, em capítulos, opondo-se aos diagnósticos e versões oficiais. Não resolve a vida, mas é não resolvendo que nos mostramos mais sinceros.


Publicado em Vida Breve em 22/11/2017

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