Casar é coisa séria, para gente grande.
Você transformará os seus hábitos. Não poderá mais se mostrar disponível, assanhado e aberto a risos e flertes. Isso não significa que será mal-humorado e assumirá uma carranca dali por diante. Não haverá alteração em termos de ternura e acolhimento para os amigos.
A postura muda com quem não conhece. Terá que ser direto sobre o seu estado civil, jamais evasivo, para não transmitir a imagem falsa de disponível e interessado.
Frustrará diálogos engraçadinhos, cortará insinuações e indiretas, colocará os pingos nos is, freará as segundas intenções, não avançará em perguntas só para ver até onde vai.
Precisará ser econômico com as dificuldades da relação - brigas pontuais não devem ser confidenciadas a terceiros sob o risco de entender que é infeliz e que o matrimônio está por um fio. Uma confissão pode levar a fofoca e logo expor a sua mulher às maldades e constrangimento público.
Resolverá as diferenças dentro do seu casamento, nunca fora. A cada ameaça do passado ou contato com ex, cabe descrever o que aconteceu na hora, não depois, não aos poucos, com mentiras parciais. Seja simples: a fulana me ligou, a fulana me mandou mensagem.
Não poderá se escandalizar com qualquer acesso da esposa as suas redes como se fosse invasão de privacidade. O celular ou o laptop não são cofres de intimidade, mas aparelhos, somente aparelhos, de uso comum.
Na web e aplicativos, não poderá manter um comportamento diferente das suas abordagens reais. Você e seu avatar continuam sendo o mesmo sujeito com aliança no dedo. Permanece casado na esfera virtual, o que requer controle na emissão de likes e comentários. Não saia atirando emojis para todos os lados. Crie um padrão, reserve um código de linguagem exclusivo a quem ama e outro para os demais, assim evitará o ciúme. Por exemplo, destine olhos de coração apenas para a sua esposa.
Grosseria é pressa. Dispense tempo sendo educado no dia-a-dia. Não é porque a pessoa mora com você que lhe dá o direito de atalhar conversas. Encontre paciência para se explicar, narrar os seus pensamentos, já que a sua companhia não tem ideia do que passa em sua cabeça.
Pensará as refeições a dois, as férias a dois, as folgas a dois, as contas a dois, as adversidades a dois, sem a possibilidade de resolver tudo sozinho, pois interfere na condição alheia.
Não entenda a reserva e a discrição como privação e censura. Casamento não é prisão. Você assumiu um compromisso consciente e toda a escolha traz alguma renúncia - não há como acumular modos de vida.
Amar alguém não é perder a liberdade, mas partilhar responsabilidades. Bem-vindo ao mundo adulto do amor.
Crônica publicada em 01/7/2018
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