segunda-feira, 25 de março de 2019

O GRILO É UM LEÃO

Esse menino é triste. Parece que aceitou posar para fotografia a contragosto.

Não é uma criança satisfeita. Olhos crispados, as sobrancelhas formam uma goleira na testa. Ele é Luka. Mas não sabe que é Luka Modric, armador de Real Madrid, de 32 anos, possível melhor jogador do mundo, que pode ser campeão da Copa pela Croácia, um país que nem sequer existe no tempo da imagem.

Ainda está com os pés plantados na Iugoslávia, que se desdobrará em mais cinco outra nações – Bósnia e Herzegovina, Macedônia, Eslovênia, Montenegro e Sérvia.

Ele não tem ideia do que será capaz, é um menino carente como milhares iguais a ele, que nasceu na guerra fratricida dos Balcãs, no meio do fogo cruzado.

Sua mirada mescla melancolia e raiva, como se não houvesse futuro. Ele não tem como adivinhar que será um herói de seu novo país dali a duas décadas, deixando para trás potências do futebol como Inglaterra e Argentina.

É improvável qualquer pressentimento de grandeza naquele momento. Ele não tem nem um país, só o medo, seu avô havia sido assassinado há dois anos pelo Exército Popular Iugoslavo, que buscava deter o movimento pela independência croata.

A vida não dava espaço para profecias. Ele mora num hotel para refugiados com a família, isolado da capital Zagreb, do qual fugiu pelas montanhas durante dias a pé para não ser morto. Ele não poderia sonhar, sonhar era um luxo e só lhe restava na hora o seu instinto de sobrevivência.

Como prever que participaria da final de Copa, capitão da equipe, dono da camisa dez, maestro dos contra-ataques, se ele joga bola hoje com os amigos, assustado, olhando para o céu, entre bombardeios e evacuações?

Não acena para os aviões, como qualquer filho feliz, foge deles a partir das sombras no solo.

É um menino cabisbaixo, retraído, tímido. Não vai sorrir. Não guarda nenhum motivo para sorrir, nem esperança para sorrir.

Se uma cigana lesse os sortilégios das linhas de suas mãos, ele acharia deboche. Como que viraria a ser um craque se todos o consideravam fraquinho demais para ser profissional? Se o seu próprio clube predileto, Hadjuk Split, o dispensou da peneira pelo porte franzino, se o treinador chegou a rir dele, dizendo que era um grilo?

Não duvide da superação psicológica e da resiliência de Luka Modric.

Luka é Esparta no mundo apolíneo do futebol, regrado pela racionalidade mercadológica, força física e imponência muscular. Ao lado de Cristiano Ronaldo, o seu físico desaparece. Quando Ronaldo comemora um gol, é uma estátua. Quando Luka comemora um gol, é uma explosão de nervos e emoção, um soldado gritando de horror das trincheiras e casamatas.

Ele nunca cansará de lutar numa partida, de virar escores, de se acabar correndo, de fortalecer a sua fé a partir das recusas e de placares adversos, de contrariar expectativas. Ele já foi esse menino.

Mbappé, Griezmann e Pogba, olhem bem para esse grilo, engulam a supremacia, abram espaço para o impossível, dentro dele bate um coração de leão.

Crônica publicada em 12/7/2018

Um comentário:

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