sexta-feira, 10 de agosto de 2012

NÃO POSSO SER O MELHOR AMIGO DOS MEUS FILHOS

Imagem de Cínthya Verri

Não posso ser o melhor amigo dos meus filhos, mas realizar uma oposição criativa.

Tenho que dizer coisas desagradáveis que nenhum melhor amigo diz, como “tá na hora de tomar banho!”, “acabou o tema?”, “não volta tarde”, “põe o casaco”.

Sou pai, necessito orientar, não concordar sempre e falar amém para aventuras.

Não quero mesmo que meus filhos contem tudo, quero que saibam que podem me contar tudo.

Não preciso saber seus segredos para que eles tenham confiança em mim.

Que possam manter um pouco de sua intimidade até longe de mim para que eu não fique toda hora opinando. 

Ser pai é um papel difícil, é segurar o sim, é segurar o não, jamais temer tomar partido.

Pai não fica em cima do muro, é o muro.

É limitar as vontades, ser determinado, firme.

Sem meio-termo: errar e pedir desculpa, acertar e comemorar.

Não posso ser legalzinho. Pai legalzinho demais tem culpa no cartório. Tem medo de perder o filho e faz todas as vontades dele. Fazer todas as vontades do filho é perder o filho.

Posso ser legal.  Isso sim. Legal. Filhos vão gostar de mim e vão me odiar.

Vão gostar de mim me odiando.

E preciso permitir que os filhos me odeiem. Que me critiquem. Que me xinguem.

Para eles poderem me superar, ser melhor do que eu.

Que falem mal de mim nas costas. Mas nas costas. Que é preciso ter educação até para falar mal. Falar mal do pai é unir os irmãos - eles têm um assunto em comum.

Passarão vergonha com meu amor. Gritarei gol durante os jogos da escola, contarei piadas sem graça para seus amigos. Terão orgulho também de mim. Quando algum professor perguntar o que eles são do Carpinejar.

Pai é passar da idade, é envelhecer para o filho entender que é de outra geração.

Não viu essa banda no Youtube, pai? Que bizarro...  

Pai é a honestidade da lembrança. É a franqueza do gesto. É a responsabilidade.

Assumir o que se vive, não ficar procurando culpados.

Ser pai é dar a cara ao tapa esperando o beijo.

Ouça meu emocionado comentário na manhã de sexta-feira (10/8), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Daniel Scola:

14 comentários:

Unknown disse...

Fabrício! Que texto lindo!!!

Eu também quero ser uma mãezona assim, e sei que vou ser muito chata mesmo. Mas a chata mais legal do mundo rsrs

Ótimo texto. Como sempre.

Uma menina com uma flor disse...

Amei o texto, lindo, completo, único!!! "Pai não fica em cima do muro; é o muro!!!"...maravilhoso!
Que todos os pais entendam essa vocação como vc, parabéns!

Natalia S. Costa disse...

Adorei a simplicidade de suas palavras para traduzir tão complexo sentimento... Texto perfeito, como sempre!

Parabéns!

Gabriella M. disse...

Belíssimo posicionamento. Ser pai, às vezes, parece ser mais difícil que ser mãe. Mas só ás vezes.

Adriana Gonçalves de Oliveira disse...

Eu já nem escrevo mais comentário (prometo! este é o último!). Só fico babando em tudo que vc escreve!

R@quel Rocha disse...

os amigos se vão, pai é pra sempre..

Fabi disse...

Já gostava de algumas coisas tuas, agora virei tua fã declarada, daquelas que vai procurar as tuas coisas pra ler e não só ler as que aparecem ao acaso. Adorei o texto e é claro que o li trocando a palavra pai por mãe, que eu não sou boba de não puxar brasa para minha sardinha. Parabéns pelo dia dos pais, aliás. Abraço.

Quenia disse...

Gostei demais!

Anônimo disse...

Sempre me pergunto se para ser um bom pai ou boa mãe, não seria necessário um pouco de hipocrisia. As pequenas transgressões que perpetramos pela vida devem ser bem escondidas? Aquele porre, loucuras no trânsito, ateísmo, etc; devem mesmo ser confessados? e se confessados não podem mandar uma mensagem errada ou temos mesmo que ser falsos? Odeio hipocrisia mas esse assunto me incomoda ,se pronunciem (o casal) se possível!

wiliam disse...

Apesar de muitas situações descritas parecerem um ato de paternidade, uma atitude de pai, uma tentativa de de socializar toda a masculinidade,Tudo isto ainda não é ser Pai...
Ser pai é antes de tudo ser mais exemplo aos outros pais e filhos dos outros, de outras casas, do que aos nossos próprio sangue...

"Então Jesus lhes dizia: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa."

Podemos sim, construir momentos e situações de proximidade e de amizade profunda, porém nada disto servirá para que antes das cagadas e dos erros mais trágicos ou dramáticos sejamos procurados para ouvir: não! Entre os homens o errar é ação da mais profunda independência e liberdade, mesmo que se tenha portas, janelas e canais abertos para suas prevensão, opta-se sempre pela mordida solitária na maçã...
Assim como na batalha naval, nosso filhos dão muito mais tiros na água do que no alvo da verdadeira necessidade, e graças a Deus que façam isto, por será o tempo desperdiçado com estes erros que valorizará os tempos ainda a possuir!



Rubens Rau disse...

A mensagem "pai É o muro" é de uma profundidade assustadora. De fato, somos o muro que se, por um lado, protege, por outro, restringe. Somos heróis e vilões ao mesmo tempo e pela mesma função. De sermos Pais. Evitamos o contato com aquilo que machuca, que fere, e também, pelo nosso próprio medo, com aquilo que estimula e desenvolve. Se formos um muro muito alto, privamos os "moleques" da vista da rua. Se muito baixo, permitimos a entrada de pessoas indesejadas... É complicado ser muro. É preciso muito movimento para ser estático ;-) Abraços e obrigado pela mensagem que foi lida no dia dos pais da creche da minha filhota ;-)

Dalva M. Ferreira disse...

Uau!

sid disse...

Tenho duas filhas, uma de quatro e outra de nove, posso concordar com vc:é difícil ser um PAI de verdade. Ser o muro q não pode ser derrubado. Tento ser esse pai legal mas com as rédias nas mãos.

Julio Gulias disse...

Pai não é muro, pai é ponte e pontes possuem muretas para que não venhamos a nos desviarmos do caminho certo.