Arte de Paul Klee
É triste a frase "Não tenho com quem deixar".
Quando uma mãe ou um pai fala "Não tenho com quem deixar meu filho" a um parente não pensa no peso dessa frase. Na carga negativa dessa frase. Nas consequências danosas dessa frase.
Ninguém diz por mal, eu sei, mas é uma expressão que dói na criança. O pai ou a mãe pretendem sair ou precisam trabalhar e lamentam a ausência de ajuda no cuidado do bebê.
Mas é fundamental criar outras palavras. O filho se sente um estorvo. Um embargo. Um incômodo. Um problema. Parece que ele está atrapalhando o ritmo de casa, a rotina da família.
"Não tenho com quem deixar" é um apelo infeliz, que revela que os pais querem fazer outra coisa que não cuidar ou estar com o filho.
Instala a culpa no pequeno. Ele se percebe rejeitado por quem mais ama.
Participa de uma tele-entrega fracassada.
O filho se vê passado adiante, escanteado.
É criar de repente um orfanato dentro de casa.
Se o filho escuta essa frase e fica depois com a babá, não duvide que ele inventará um inferno nas próximas horas. Vai se vingar com gritos, manhas e choradeira. Vai reagir ao golpe duro, vai se indispor a impressão de ser um objeto.
Ouça meu comentário na manhã de sábado (9/3) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Jocimar Farina e Andressa Xavier:
Um comentário:
Por isso falo: preciso ficar com minha filha... Me dei conta dessa carga e mudei o discurso...
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