quarta-feira, 20 de março de 2013

TEORIA DO CORNO


Arte de Eduardo Nasi

É mais fácil um marido corneado perdoar a mulher do que um namorado corneado.

O marido corneado tem o passado para contextualizar, o namorado corneado tem unicamente o futuro que talvez esteja perdendo.

O namorado quer provar que é macho. O marido quer provar que é santo.

São duas esferas de julgamento. No casamento, a intimidade atua como um atenuante. No namoro, a falta de convivência cresce em paranoia.

O namorado é estressado: mexe, persegue e controla a presença feminina nas redes sociais. Seu ciúme é preventivo e inseguro. Mexe no celular alheio, pergunta quem está ligando e com quem ela terminou de falar. Como não tem nenhum laço para se agarrar, a não ser a fidelidade, não aceita ser enganado por outro homem. A questão dele é com a virilidade ferida. Ele não atura saber que um desconhecido roubou seu lugar e o privilégio do prazer.

O que enlouquece o namorado é a troça subterrânea, secreta, de que alguém pode se vangloriar de sua ignorância.

O marido relaxa porque tem as preocupações da rotina e da família para rivalizar com a crise matrimonial. Seu ciúme é retórico. Quando descobre a escapada, sua conversa será com a mulher, libera o amante do interrogatório. Procurará entender o motivo da traição para seguir adiante. Se a esposa confessa que não amou o sujeito, tem grandes chances de desculpá-la.

O namorado não se interessa por aquilo que aconteceu. Nada explica a quebra de confiança. Se a namorada revela que foi apenas sexo, ele fica ainda mais ofendido. Fazer sexo com um terceiro é atestar sua insuficiência erótica.

O namorado corneado só pensa nele. O marido corneado só pensa em como ela pode voltar a amá-lo.

O namorado corneado é mimado. O marido corneado sofreu muito antes para se prender à dor.

O namorado corneado é um estourado. Não banca as contas, acha que é um dever ser amado, recorre ao extremismo para se destacar.

O marido corneado entende que a infidelidade não é o fim do mundo, muito menos da relação. Ele pagou os armários embutidos da cozinha em 48x, depois disso o tempo passou a ser seu álibi.

O namorado corneado morre de ansiedade e fecha as saídas. O marido corneado oferece folga para sua esposa escolher com quem ela quer ficar.

O namorado corneado é onipotente. O marido corneado é consciente.

O namorado corneado é autoritário. O marido corneado é generoso.

O namorado corneado é previsível. O marido corneado é paradoxal.

O namorado corneado é um cavalo. O marido corneado é um cavalheiro.

O namorado corneado é violento. O marido corneado é um violino.

Garanto. A mulher nunca mais respeitará o namorado que ela traiu. Torna-se um irmão.

Já o marido corneado terá sempre uma segunda chance. Ele retira felicidade da culpa.





Crônica publicada no site Vida Breve
Colunista de quarta-feira
 

Um comentário:

fernanda disse...

muito bom este texto, super cômico e ao mesmo tempo trágico, amei! :D