sexta-feira, 1 de março de 2019

UMA NOITE SOZINHA NÃO FAZ INVERNO

Uma única noite é insuficiente para amar. Pode até não ser para um dos dois, mas não para os dois.

Um relacionamento nunca se limita a uma transa. Você pode romantizar, alegar que não existiu nada igual, justificar a atração explosiva. Mas uma noite definitiva requer uma segunda noite. O sexo isolado, sem sequência, significa que não houve paixão, não houve algo mais, que não vingou a promessa e a esperança.

Quando se gosta, procura-se sempre o tira-teima. Você quer saber se não é alucinação e se realmente é verdade o impacto da química. Busca confirmar as expectativas. E não demora muito para acontecer. Será na mesma semana. A ansiedade aumenta o desejo. Encontros esporádicos e espaçados não revelam permanência. A fissura é o que gera namoros e casamentos.

Se alguém me diz que a relação vai se segurar com apenas uma saída, não acredito. Ainda que elogie a própria perfomance e destaque a selvageria da entrega. Os efeitos foram unilaterais. Pode existir o agrado, o bem-estar, mas não a crença da cara-metade de uma das partes.

Para conquistar o outro, é necessária a reincidência sexual. O que talvez tenha acontecido é a transa pelo climão, pelo contexto favorável, o que é muito comum.

Estavam bebendo, livres e inconsequentes, e se arriscaram na cama. Estavam carentes e ousaram se experimentar. Estavam numa festa ou balada, curiosos, nada incomodando, anestesiados pela felicidade, e não viram problema de tentar. Só que não seguirão adiante, o coração não estalou depois do ato.

Porque, para amar, não basta os corpos se encaixarem, depende do encaixe das palavras, das afinidades e do silêncio.

Publicado em UOL em 23/02/2018

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