quarta-feira, 3 de março de 2010

OLHO ROXO

Arte de Tereza Yamashita



Ele sentou de lado para conversar de frente. Depois escondia a face. Além dos óculos escuros, um adereço que utiliza exclusivamente para enterros.

— O que foi?
— Nada.
— Mostra, vai? O que está tapando?

O amigo Mário Corso não experimentava tranquilidade. Tive que arrancar seus dedos da cara para descobrir um inchaço debaixo das pálpebras, quase um segundo nariz respirando em linhas escuras.

— Apanhou?
— Não, foi a Diana. Pulou na piscina e foi me abraçar, suas unhas fincaram de jeito na carne.

Ele é ruivo. O hematoma fica mais acentuado na pele branca. Se meu comparsa pudesse, sairia de casa com uma máscara de gripe suína. Mentiria que se prevenia de uma nova corrente de surtos que vinha do Afeganistão.

Arredio, nervoso, buscava se esquivar do exame assustado dos fregueses do bar. Temia inclusive o barulho do gelo do copo e a sombra do vidro. Seu constrangimento era maior pelo fundo doméstico e cômico da cena. Todo mundo pensaria que se meteu numa briga e nem isso aconteceu. Não tinha como se vangloriar de pose de valentão porque simplesmente se encabula ao mentir.

É capaz de remorsos fundos, de acreditar que agiu mal diante do pulo involuntário da esposa. Não queria ter sangrado. A sangueira encabulou, gerou culpa. Os dois não mais relaxaram, envolvidos em desculpas, curativos, pomadas e comiserações. Fecharam a conta no hotel e anteciparam o regresso das férias.

Não havia como explicar, mas ardi em inveja. Eu desejava ostentar aquela marca garbosa. Por que não fui escolhido? Para quem não tem olhos azuis, o olho roxo é uma dádiva. Seria imediatamente prepotente. Ostentaria o machucado, talvez fizesse uma sinalização de esparadrapo, um heliporto para os mosquitos. Cumprimentaria estranhos, levaria os braços à cabeça para atrair a curiosidade. Aquela lesão traria uma dignidade. Uma confiança hostil e excitante.

Ganharia assento no ônibus, passaria à frente nas filas bancárias, sobrariam vítimas para histórias malucas, despertaria interesses humanitários.

É um ímã de mulheres. Mais do que uma tatuagem de dragão ou bíceps avantajados. Elas se interessariam pela sua origem, me achariam perigoso, enigmático.

Nenhuma namorada nunca me bateu. Faltava essa medalha de guerra, essa etiqueta de passionalidade, essa luta vencida ponto a ponto. Mesmo que por um acidente.

Meu rosto ainda é de uma criança.



Crônica publicada no site Vida Breve

16 comentários:

Mile Corrêa disse...

kkkkkkkkkkkkkk
muito engraçado o fato de você
invejar o olho roxo!
bom texto! =D

Jacelena Dourado disse...

Nossa!!!
Um olho roxo esconde muitos mistérios!!!
grande Abraço!!!!
Jacelena

Oscar Karoleski disse...

Muito bom o texto!!.. e agora sei por que vi o Mario Corso esta semana, e ele ainda ostentava uma camisa floreada, típica de férias.. era um manifesto de repúdio contra o retorno antecipado... rs

Anônimo disse...

Se os olhos são a janela da alma o olho roxo seria um portão arrombado.

Ju Fuzetto disse...

kkkkkk olho roxo sinal de alma roxa!! Já que os olhos são os espelhos da alma!!!

Adorei!!


abraço

B. disse...

Cada qual com seus desejos peculiares! kkkkk
Tenho que dizer: sou sua fã!
Beijoocas, bom post!
:*

Bandys disse...

Acho que é do inicio,
Fim só quando se morre mesmo assim existe vida eterna,

Prazer!

Maria Tereza disse...

hahahahaha... só vc mesmo pra querer ter um olho roxo! figura!

Anônimo disse...

Viajei com a ideia de ver você ostentando um olho roxo! rsrs
Bom texto. Até mais!

Amanda disse...

Você é ótimo Fabrício!!
Só você mesmo...

Ivi Medau disse...

Imagina vc de olho roxo, com o óculos amarelo? Uma mancha preta ficaria por trás da lente, chamando muito mais a atenção das pessoas...rsrsrs.

Adoro-te!
Um beijo

Anônimo disse...

Abc de e efe ge

livinha disse...

Há,há,há... lembrei de meu primeiro namorado... daqueles que ninguém consegue superar. Nem mesmo o amor da sua vida será igual à ele... E o meu primeiro namorado, numa brincadeira de "pega-pega" me deixou de "medalha" uma articulação temporo-mandibular estourada e seis meses de fisioterapia! Posso dizer que são boas lembranças... do tempo em que o amor tinha leveza de criança... As pessoas não entendiam nada, mas agora sei porque ria tanto e me orgulhava ao contar...

Adélia Carvalho disse...

Inveja do olho roxo?
Ai, eu nunca ia pensar assim...
Você consegue tornar tudo incrível, Carpinejar.
Abraços.

YURI disse...

aqui quem escreve no comentario
é o aluno yuri mickael da escola afonso guerreiro lima
que gostaria de te perguntar umas perguntas basicas para conhece-lo melhor e ajudar no asunto da escola.
que estamos trabalhando nisso faz um tempinho!
perguntas:

o q vc gsota da fazer quando não ta no trabalho?

como surgiu seu estilo de se vestir?

como surgiu a historia da comunidade do orkut sobre vc?

YURI disse...

e verdade que seus pais não gostavam de vc?

e agora eles gostam?