terça-feira, 31 de julho de 2012

CASINHA DE HOMEM

Arte de Toulouse-Lautrec

O homem brinca de casinha. É quando ele vai a um motel.

Todo motel tem ladeira e uma torre. O motel é o castelo do macho. É seu sonho de príncipe encantado.

Todo motel tem letreiros luminosos de cinema. É sua vontade de ser um ator pornô famoso e ser descoberto por Hollywood.

O motel é o conto de fadas masculino. É o pontapé inicial de sua vida imobiliária, o exercício de sua independência de estilo.

Homem não aprecia olhar apartamentos antes de comprar, não tem paciência para analisar plantas residenciais e espiar condomínios: homem visita motéis.

É uma compulsão estranha e irrefreável.

Não acredita em mim? Por que, então, quarto de motel tem churrasqueira? Explica?

Trata-se de um projeto secreto de residência, um modelo perfeito de convívio familiar. Traz a ilusão de lua de mel permanente com sua amada, não tem que aguentar a indiscrição de vizinhos e nunca sofrerá ameaça de despejo do condomínio por gritos e gemidos.

Naquele momento, realiza sua especulação patrimonial, treina seu gosto para decoração, avalia sofás, cortinas, box, azulejos para, posteriormente, adotar em seu cantinho. Passa a conhecer o que é uma poltrona Luis XV. Vivência moteleira é cultura.

Não estou troçando, o homem desejaria que seu dormitório fosse igual ao do lugar. Com cama redonda, espelhos no teto, luz negra, piso elevado, várias atmosferas e frigobar. Pergunte a qualquer marmanjo.

Adoraria dispor de um painel com botões para acender o ar-condicionado, o som, trocar as luzes e vibrar o colchão. Um controle centralizador que simplificasse seus movimentos e mantivesse o ambiente sob o alcance de um simples gesto.

O motel é o ideal de consumo dos marmanjos. Se possível com piscina, banheira de hidromassagem e roupão branco sempre lavado esperando no gancho atrás da porta. Na hora de ligar a TV, que viesse direto os jogos exclusivos do Brasileirão, nada de novelas e seriados românticos.

Diante da pequena portinhola da garagem, logo na entrada do estabelecimento, o homem define o futuro da relação ao escolher o quarto. A tabela de preços é o equivalente à vitrine de uma joalheria para a mulher: cada quarto é uma aliança ou de 12 ou de 16 ou de 18 ou de 24 quilates.

Se ele solicita o apartamento simples, é apenas uma transa rápida, não passará de meia hora. Se ele sugere uma suíte, é proposta de namoro. Se ele requisita a chave de uma supersuíte, comemore o noivado. Se ele quer uma supersuíte luxo, é a consagração erótica, um convite indireto ao casamento.

Mas, se ele pedir uma supersuíte luxo presidencial, é que ele andou frequentando motel com outra e pretende obter o perdão.




Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 31/07/2012
Porto Alegre (RS), Edição N° 17147

8 comentários:

Anônimo disse...

... faltou: "e quando quem paga a conta" é ela...

Carmélia Cândida disse...

ÓTIMO!!! Adoro seus textos.

Carmélia Cândida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

"Mas, se ele pedir uma supersuíte luxo presidencial, é que ele andou frequentando motel com outra e pretende obter o perdão."

Confere! kkkkk

Basso disse...

Eu juro que li "ejaculação" patrimonial ao invés de especulação. E realmente, visitei muito mais motéis do que apartamentos pra comprar.

Camila disse...

Muito interessante!!! Fiquei aqui pensando na vida depois desse texto.

wiliam disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
wiliam disse...

Churrasqueira em MOTEL? SÓ NO PARALELO 30 MESMO...
AQUI EM SAMPA, nem frigobar, nem churrasqueira, em muitos motéis, nem TV!!!
Só para o homem brincar de casinha por mais horas, e pela manhã servir ELE mesmo servir o café na cama, do jeitinho que ela quiser e pedir...
kkkk: churrasqueira em motel... Bagulho é loko aí embaixo, só não entendo porque se omite tanto a cuia e o chimarrão no cotidiano das crônicas? Acaso ele realmente inexiste também nos motéis? Uma chaleira quente a disposição?!
Tenho curiosidade de saber se os gaúchos e demais sulistas, desprezam as cuicas também durante os motéis?


e por falar em CHURRASQUEIRA acabei de ver:
AN TO LÓ GI CO!!! recomendo!

É a cultura brasileira com tempero gaúcho!

Fazer churrasco de profissionais idosos, ao vivo e a cores, não é apenas ato de inquisições, mas de humilhações do patrimônio intelectual que cada representa e não é dignificado, mas inferiorizado! Quem passa a barreira dos 50 neste país e ainda continua brilhante vive sempre um segundo renascimento!