Depois de um ano de sucesso do consultório sentimental no jornal Zero Hora, volto a escrever crônicas livres sobre relacionamento. Foi emocionante a experiência de responder semanalmente cartas de leitores na revista Donna. Uma troca intensa e absurdamente sincera.
Meu papel agora é fazer reflexões líricas, engraçadas e inusitadas sobre romance e vida familiar.
P.s: Quem depende de conselho amoroso pode continuar mandando mensagens para colunaquaseperfeito@gmail.com, que darei dicas no meu programa Quase Perfeito, da Rádio Gaúcha, toda quinta-feira, da meia-noite até 2h.
SUPERPODER FEMININO
Arte de Fatturi
Só a mulher tem a liberdade de se sentir ofendida e se retirar a qualquer momento de qualquer local.
Ela tem um passe-livre da mágoa. Uma pulseira vip do camarote da tristeza. O homem não. O homem nem pensar.
Eu invejo esse superpoder. É uma habilidade sobrenatural, muito melhor do que os dois braceletes indestrutíveis da Mulher-Maravilha, que repele balas e raios, ou de sua tiara que funciona como bumerangue. Sua namorada pode estar conversando com você num bar, de uma hora para outra fechar a cara e deixá-lo plantado na cadeira.
Ela evaporará da multidão sem explicar nada. Você herdará a caipirinha de morango ainda cheia. Terá que ir atrás dela. Pagar a conta e ir atrás dela. Pagar a conta, retirar seu carro do estacionamento e ir atrás dela.
Não entenderá o que aconteceu para gerar a atitude intempestiva. Mas ela é que tem razão. Foi você que disse algo que a desagradou profundamente. Uma palavra áspera, uma grosseria involuntária, uma falta de gentileza são suficientes para abandoná-lo.
Por se ver sempre culpado, o homem corre igual a uma ovelha no encalço de sua pastora. Como não compreende o desaparecimento, conclui que é um idiota. Além de ferir, tampouco percebeu que feriu. Duplamente consternado por não conter a agressividade e não se dar conta dela.
Todo sujeito se desespera. Não tem tempo de pensar e voa em direção ao pedido de desculpa. Ela não facilitará as pazes: em prantos, desligará o celular, não permitirá que entre em casa e dirá que não quer mais falar com você.
Nenhum marmanjo resiste a ser esquecido em público: é a flechada derradeira do cupido.
Já fui largado em cinema, teatro, balada, pub, shopping, boliche. E nunca permaneci parado, atirei-me à rua para reavê-la. Bate um medo da fúria feminina, do que ela pode cometer quando consternada. Responsabilizo-me por eventual fatalidade. Esquecerei pudores e cuidados com a reputação. Gritarei “me espera!” na Padre Chagas lotada, vou subir o velocímetro na Ipiranga (não há maior perseguição policial do que entre dois motoristas apaixonados e brigados).
Já o homem não desfruta desse direito. Se abandonar sua companhia no meio de um compromisso, mesmo com a realidade a seu favor, ele é um estúpido, um mau caráter, um boçal.
Será visto como um covarde pelo resto do relacionamento. Como que ele leva uma convidada para um lugar e não sai do estabelecimento acompanhado dela?
O sofrimento masculino tem a obrigação de ser educado.
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 10/03/2013 Edição N° 17367
7 comentários:
Genial, simplesmente...
E você está sofrendo...parece. Não dá tempo de correr atrás, ainda?
Triste fato...
Fabrício,
Você não é Quase Perfeito. Você é PERFEITO! Pois, tem "lábia- poética" para derrubar os muros da indiferença onde nós mulheres, na maioria das vezes, nos escondemos...
Você é, sem dúvida, o homem mais bonito que eu conheço. A sua alma se veste de delicadezas. Bjs
incrivelmente verdadeira sua crônica!
E ai do rapazote que não vá atrás de sua amada, perde para sempre!!!!
Vc acertou na mosca. Em 69 anos tenho tido dessas experiências só agora. Faltou a 2ª parte: que fazer? "Chutar o balde" ou ir atrás. Silenciar ou discutir a relação?
Concordo! Pena que não é uma realidade compartilhada por todas. Rs...
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