Arte de Georges Rouault
Agora garçom tem que ser fotógrafo.
Garçom é sempre o que sobra para tirar fotografia dos amigos em restaurante, dos casais em restaurante, das famílias em restaurante.
Não tem saída. É o turismo da comida. É o turismo da gastronomia.
Todo mundo da mesa pretende aparecer na imagem e a tarefa fica para quem: o garçom!
- Pode tirar fotografia para nós?
Não pode dizer não. Não pode negar a gentileza. Não pode alegar excesso de trabalho.
E lá vai ele largar a bandeja, atrasar o serviço, disfarçar a ansiedade e tentar enquadrar a santa ceia sem deixar nenhum apóstolo de fora.
São vinte pessoas para entrar num quadradinho mínimo e ninguém pode aparecer de olhos fechados. Não é só usar o dedo, é dirigir a cena, produzir, indicar o posicionamento. Deve contar com paciência para juntar o povo de um lado, já que ninguém deseja se levantar para colaborar com o enquadramento.
Precisar entender como funciona um celular absolutamente estranho em segundos, se deve apertar na tela, na bolinha, no botão ou segurar até disparar o flash.
Será recriminado ao perguntar como se utiliza aquele modelo da máquina. Será vaiado ao demorar fazendo o cliente perder a espontaneidade e seu melhor sorriso.
E ainda sofre as críticas se a foto ficou escura, se resultou desfocada ou se retratou mais o teto do que o rosto das pessoas.
Coitado do garçom condenado a ser fotógrafo noite após noite. Merecia receber 20%. 10% por servir, mais 10% pelas fotografias.
Ouça meu comentário na manhã de terça-feira (04/11) na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo e Jocimar Farina:
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