quinta-feira, 27 de novembro de 2014

SINESTESIA

Arte de Federico Zandomeneghi

Minha mãe é de família italiana, de Guaporé.

Ela se expressa por gestos, passional, exagerada.

Tem a mania irritante de conversar batendo no ombro.

Está nervosa e começa a me dar tapas na hora de falar.

Apanho toda vez que ela conta uma história.

Já tenho medo de escutar.

Ela chora com uma lembrança bonita e me empurra de emoção.

- Olha que lindo! Não é lindo?

Não para quieta com a mão. Vive me esmurrando sem querer.

Sua voz é um martelo.

Não tem como olhar para os lados.

Lá vem uma fofoca nova e mais um tapa.

Quando está alegre, segura meu braço para que possa ouvir melhor.

Quando está triste, sou espancado com cutucões.

Eu enchi o saco depois de décadas de agressão amorosa:

- Para de me bater, mãe! Por favor, conversa sem bater. É muito chato. Ninguém gosta disso.

Ela me olhou com ternura:

- É que sou sinestésica.

Ah bom, agora chatice tem um novo nome: sinestésica. Ver com o tato.

As palavras difíceis sempre salvam as mães.

Ouça meu comentário na manhã desta terça-feira (25/11), na Rádio Gaúcha, programa Gaúcha Hoje, apresentado por Antonio Carlos Macedo:

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